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    Tostão

    Depois de tantas boas atuações, não seria ruim se o Brasil perdesse

    08/11/2017 02h00

    Após a saída de Neymar, o Barcelona mudou o sistema tático. Em vez de três no meio-campo e três no ataque, o time tem atuado com uma linha de quatro no meio e dois na frente (Messi e Suárez). Dos quatro do meio-campo, três são titulares (Busquets, Iniesta e Rakitic). O quarto muda a cada jogo. Paulinho é um deles. Quando ele entra, Rakitic é deslocado para a direita, e Paulinho joga ao lado de Busquets, com Iniesta mais pela esquerda.

    O Barcelona continua muito bem, mas perdeu a maneira fascinante de jogar dos últimos anos, a não ser quando a bola encontra Messi. Dois apaixonados, um pelo outro. Messi continua assombroso e genial. Por outro lado, a defesa está mais protegida, especialmente os laterais, já que o time possui agora dois volantes e um meia de cada lado.

    Há um exagero da crônica brasileira sobre Paulinho, como se ele fosse um sucesso no Barcelona. Paulinho é reserva. Quando entra, mostra sua principal qualidade, a infiltração na área para finalizar, uma virtude importante. É um armador discreto, mas já tem uma conquista, a de ser a primeira opção para Iniesta e Rakitic.

    Outro jogador da seleção que está muito bem, fazendo gols, mas que é excessivamente elogiado no Brasil é Gabriel Jesus. A maioria de seus gols ocorre dentro da pequena área, com um toque. Centroavante bom, como é Gabriel Jesus, aproveita. Nos dois últimos jogos, pela Liga dos Campeões e no clássico inglês, contra o Arsenal, Gabriel ficou na reserva de Agüero, o maior artilheiro da história do clube. Guardiola prefere jogar com um centroavante e dois pontas abertos a ter dois atacantes pelo meio.

    Os outros jogadores da seleção continuam muito bem na Europa. Como o Real Madrid perdeu vários jogos, Casemiro e, especialmente, Marcelo, caíram de produção. O Tottenham, na vitória sobre o Real, por 3 a 1, explorou bastante os espaços nas costas do lateral. Na Copa, os adversários do Brasil vão tentar fazer o mesmo.

    Fernandinho evoluiu muito e pode ocupar, nestes dois amistosos, o lugar de Renato Augusto. Quando Tite chegou à seleção, Renato Augusto e Paulinho se revezavam na marcação e no apoio. Com os jogos, Renato Augusto se tornou mais um segundo volante, e Paulinho, mais um meia ofensivo. Se entrar Fernandinho, essa divisão ficará ainda mais delimitada.

    O jovem goleiro Ederson tem jogado muito bem, e não será surpresa se for o titular na Copa. Ele talvez já seja o goleiro com o melhor passe do mundo. Não se deve confundir essa habilidade com a dos goleiros que se destacam na cobertura dos zagueiros. Nesta avaliação, Ederson é também bom, mas Neuer é o melhor de todos.

    O Brasil possui alguns reservas especiais, substitutos em mais de uma posição, como Fernandinho e Thiago Silva. O titular Philippe Coutinho será uma ótima opção em outras funções, entrando Willian pela direita. O que me preocupa são alguns reservas, presentes nesta convocação ou em outras, que jogaram pouco, que são muito inferiores aos titulares e que podem atuar na Copa, por variados motivos, como Diego, Diego Souza, Taison, Giuliano, Fred (volante) e outros.

    Depois de tantas boas atuações e de seguidas vitórias, não seria ruim se o Brasil perdesse antes da Copa. Seria mais fácil corrigir uma ou outra deficiência. Algumas derrotas costumam ensinar muito mais que as vitórias.

    tostão

    Médico e ex-jogador, é um dos heróis da conquista da Copa de 1970. Afastou-se dos campos devido a um problema de descolamento da retina. Escreve às quartas-feiras
    e aos domingos.

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