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    Vaivém

    Falta de política para alumínio leva a indústria à estagnação

    27/09/2014 02h00

    O cenário de custos e de preços se apresenta tão desfavorável para a indústria de alumínio que o Brasil, o terceiro maior produtor mundial de bauxita, poderá chegar a 2025 sem produção primária.

    É um quadro extremo, mas, se ocorrer, o suprimento interno de alumínio virá apenas da recuperação de sucatas, cujo volume atingiria cerca de 1 milhão de toneladas.

    Sem produção, a importação seria de semimanufaturados e de transformados de alumínio. O deficit de metal subiria para 1,6 milhão de toneladas, com reflexo no investimento, emprego e arrecadação de impostos.

    Esse é um dos cenários que o setor está mostrando aos candidatos à Presidência da República. Para não entrar nesse túnel sem luz, a indústria propõe uma série de medidas nas áreas industrial, comercial e tributária.

    Uma delas, e que é necessária porque tem grande peso nos custos de produção do setor, é a política energética.

    O Brasil deveria seguir os demais países do Brics (Rússia, Índia, China e África do Sul), que possuem uma política industrial energética voltada à indústria, segundo Milton Rego, presidente-executivo da Abal (Associação Brasileira do Alumínio).

    Os contratos de energia, em R$ 132 por megawatt-hora em 2013, estão 140% acima dos de há uma década.

    Gustavo Epifanio/Folhapress
    Milton Rego, presidente-executivo da Abal; setor sofre com altos custos de produção.
    Milton Rego, presidente-executivo da Abal; setor sofre com altos custos de produção

    O setor acredita, ainda, que é necessária a oferta de gás com preços competitivos, como forma reduzir custos e dar competitividade à indústria.

    Uma outra política necessária para o setor são ações na área comercial. Na avaliação de Rego, é preciso uma contenção das importações de semimanufaturados e de manufaturados. A persistência dessas importações reduzem os investimentos.

    Rego destaca também a necessidade de políticas mineral e de compras pelo governo, além de questões estruturais e regulatórias.

    Outro item importante é a necessidade de maior reaproveitamento da sucata, prejudicado pela tributação entre Estados. Hoje, 35% do uso de alumínio no Brasil é proveniente de sucata. Em alguns países, como o Reino Unido, esse índice chega a 50%.

    *

    Sem adoção A não implementação de uma política industrial no setor de alumínio fará com que os investimentos caiam para próximo de R$ 1 bilhão até 2025. A produção adicional do setor seria de apenas 10 bilhões de toneladas por ano, enquanto os empregos novos seriam de 42 mil pessoas.

    Com adoção Já estimativa da Abal indica que, com a adoção de uma política industrial, os investimentos subiriam para R$ 21 bilhões até 2025. A produção adicional subiria para 24 milhões de toneladas por ano, enquanto os empregos novos somariam mais 89 mil pessoas anualmente.

    Impostos A desestabilização do setor de alumínio custaria caro também para o governo, cujos impostos adicionais seriam de apenas R$ 379 milhões por ano. Mas com a adoção de uma política para o setor, esse valor seria de R$ 830 milhões, segundo a Abal.

    Energia A participação desse item nos custos do setor subiu de 30%, em 2004, para 55% em 2013, conforme dados da Abal. Em 2012, o percentual era de 60%.

    Investimentos Em 2007, o setor investiu R$ 6,6 bilhões, a preços corrigidos para 2013 pelo IGP-DI. No ano passado, as empresas investiram apenas R$2,2 bilhões.

    Deficit As exportações de alumínio e derivados devem recuar para US$ 1,21 bilhão neste ano. Já as importações sobem para US$ 1,82 bilhão, gerando um deficit de US$ 610 milhões no setor. Há cinco anos, o país tinha superavit de US$ 1,2 bilhão.

    Colaborou TATIANA FREITAS, de São Paulo

    Vaivém das Commodities

    Por Mauro Zafalon

    Vaivém das Commodities

    Mauro Zafalon é jornalista e, em duas passagens pela Folha, soma 40 anos de jornal. Escreve sobre commodities e pecuária. Escreve de terça a sábado.

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