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    Vaivém

    Apesar da alta do boi gordo, bezerro 'leve' limita lucro do pecuarista

    20/11/2014 02h00

    O boi gordo subiu 22% nos dez primeiros meses do ano; o bezerro, 31%. Isso indica que, mesmo em período de alta recorde da carne, a margem do pecuarista que trabalha na recria e na engorda está mais espremida.

    O bezerro está caro? "Não, está leve", responde Adolfo Fontes, analista do Rabobank Brasil. A pecuária brasileira deveria ter um bezerro mais jovem e com peso maior.

    A disparada do preço do bezerro resulta de um descasamento entre os elos do longo ciclo da pecuária brasileira. O país tem um espaço muito importante no mercado externo e em alguns momentos não consegue aproveitar bem a questão de preço devido a descompassos na cadeia.

    Para apontar esse descasamento, Fontes compara a cadeia da pecuária brasileira à dos EUA. Aqui o bezerro é comercializado com cerca de 180 quilos, ante 270 nos EUA.

    "É importante destacar que no mesmo período de cria, entre 8 e 12 meses, os produtores de bezerro nos EUA conseguem entregar um animal cerca de 90 quilos mais pesado que os produzidos no Brasil. Lá eles recebem um prêmio por esse desempenho."

    Editoria de arte/Folhapress

    Mas o preço maior no Brasil não é garantia de bons negócios. Enquanto no Brasil o preço do quilo de bezerro supera em 33% o do boi gordo, nos EUA a relação é de 62%.

    O Brasil, portanto, tem muito o que fazer para pôr a cria dentro da cadeia da pecuária, diz Fontes. Uma saída é a organização dos elos da cadeia por meio de contratos, trazer a cria para uma tecnologia mais próxima da dos EUA em termos de peso e reduzir o ciclo da pecuária.

    A cria está muito pressionada pela recria, que paga os animais por cabeça, o que desestimula o setor a produzir um bezerro mais pesado.

    O pagamento, como já ocorre em algumas regiões, deveria ser por peso, e não por cabeça, diz. E isso acaba se refletindo no próprio mercado, que demora mais tempo para o abate do animal.

    Sem o incentivo de preço melhor para um animal de peso maior, o produtor não incrementa o uso de tecnologia.

    Fontes indica quatro caminhos básicos para que um bezerro vá mais cedo para a recria e com mais peso.

    O processo começa na genética da mãe, que pode dar uma maior capacidade ao bezerro de engordar no período que está se amamentando.

    O analista do Rabobank diz que é importante também a qualidade das pastagens nesse processo de alimentação.

    Além disso, o bezerro deve ter uma suplementação alimentar mineral. O animal com essa suplementação vai ganhar mais peso do que o que não tem.

    Finalmente, é importante também a genética do bezerro, que dá qualidade do ponto de vista de conversão alimentar. Dependendo do potencial genético desse animal, é possível obter melhor desempenho na relação do consumo de alimentos revertidos em carne. "Paga-se mais por um bezerro que comerá menos e produzirá mais carne."

    A pecuária só será sustentável se reduzir o ciclo de produção -que só cairá à medida que o setor tiver um bezerro mais pesado no mercado.

    "Antes, o custo da terra suportava a baixa produtividade. No futuro, isso será cada vez mais difícil. Abre-se caminho para pessoas mais focadas em tecnologia. É um caminho natural."

    Vaivém das Commodities

    Por Mauro Zafalon

    Vaivém das Commodities

    Mauro Zafalon é jornalista e, em duas passagens pela Folha, soma 40 anos de jornal. Escreve sobre commodities e pecuária. Escreve de terça a sábado.

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