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    Vaivém - Mauro Zafalon

    Perda de grau de investimento afeta agricultura

    19/09/2015 02h00

    As consequências da perda do grau de investimento pelo país ainda não são claras para a agricultura. Mas os efeitos sobre a economia já indicam para uma redução de margem do produtor no próximo ano.

    A avaliação é do ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues. Para ele, câmbio e crédito são dois pilares fundamentais para o setor neste momento, e o rumo deles ainda gera dúvidas.

    O câmbio, no ritmo atual, beneficia a agropecuária, que plantou com um dólar menor e está vendendo com um dólar mais elevado.

    As negociações das commodities são basicamente feitas em dólar, o que traz mais reais para os produtores.

    O problema, segundo Rodrigues, é que a safra atual já está sendo plantada com um dólar mais elevado. Ou seja, custos maiores. E com qual dólar vamos negociar no final da safra?, pergunta ele. Se o dólar estiver abaixo dos patamares atuais, a conta não vai fechar.

    A questão do crédito, que preocupava os produtores, começa a ser resolvida com as liberações que vêm ocorrendo nas últimas semanas, diz Rodrigues.

    A agropecuária sentirá os reflexos dos rumos da governabilidade. Os erros cometidos pelo governo começam a ser pagos agora pela sociedade. À exceção do setor sucroenergético, que já está pagando há mais tempo.

    Apesar de admitir que há problemas na condução política e econômica do governo federal, o ex-ministro afirma que a agricultura está em boas mãos.

    "A Kátia Abreu, que conseguiu um bom Plano Safra, conhece o setor e tem representatividade no governo."

    Sobre a possibilidade de a ministra da Agricultura assumir a Casa Civil, Rodrigues diz que, "seria melhor ainda. Com a Kátia na Casa Civil, teríamos dois ministros. Ela e quem ela indicar".

    Mesmo com os problemas atuais, o ex-ministro se diz esperançoso. "É preciso olhar para a frente."

    Os investimentos na agricultura com certeza serão menores daqui para a frente. É só ver o resultado das compras de máquinas e equipamentos pelos produtores nas feiras realizadas pelo país.

    Mas, um alívio poderá vir de possíveis quedas nos preços de fertilizantes, máquinas e agroquímicos.

    O lado bom é que o produtor aprendeu que, para competir, tem de ter tecnologia e produtividade.

    Para discutir esses momentos do cenário agrícola e principalmente as questões institucionais da agricultura, o setor se reúne neste sábado (19) em Campinas (SP).

    Rodrigues, presidente do Lide Agronegócios, que promove o evento, diz que o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, fará uma avaliação de como o Judiciário vê o agronegócio.

    Na sequência, haverá um debate com representantes do Congresso para avaliar o que está sendo feito em diversas áreas como vendas de terras para estrangeiros e questões ambientais e indígenas.

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    Posto acompanha usina e reajusta preço do etanol

    O indicador diário de preços do etanol hidratado apontou alta de 9,3% na semana passada.

    O reflexo foi imediato nos postos de abastecimento da cidade de São Paulo nesta semana. O consumidor pagou, em média, 2,8% mais pelo álcool hidratado.

    Os dados do indicador diário são do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) e da BM&FBovespa. Já a pesquisa nos postos é da Folha, que acompanha preço semanalmente em 50 estabelecimentos na capital paulista.

    Apesar dessa alta, que levou o preço médio do litrode álcool hidratado para R$ 1,972, o combustível ainda tem vantagem em relação à gasolina em São Paulo. O derivado de petróleo vale, em média, R$ 3,124. Com isso, o valor do hidratado passou a ser 63% do da gasolina.

    Pesquisa indica que, em média, esse etanol perde competitividade quando a paridade superar 70%.

    Antonio de Padua Rodrigues, diretor da Unica, diz que a alta de preços nas usinas foi um evento pontual, ocasionado pelas chuvas na primeira quinzena do mês.

    Sem moagem, a oferta diminuiu, e os preços subiram. Mas, nesta semana, o etanol já começa a cair, aponta o indicador diário do Cepea.

    A moagem da primeira quinzena deverá ficar 45% inferior à da anterior, segundo o diretor da Unica.

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    Cana A moagem deverá ser de 646 milhões de toneladas nesta safra. Desse total, 590 milhões serão no centro-sul. A previsão é de Julio Borges, da consultoria JOB.

    Menores As chuvas que ocorreram no centro-sul, de abril de 2014 a março de 2015, foram 10% abaixo da média. As do Norte e Nordeste ficaram 12% abaixo da média dos últimos 20 anos no período de setembro de 2014 a agosto.

    ATR O rendimento industrial no centro-sul será de 133 quilos de ATR (açúcares teoricamente recuperáveis). No Norte e Nordeste, de 130.

    Mix O volume nacional de cana destinado ao etanol será de 53,7%. Borges prevê, ainda, produção de 33,2 milhões de toneladas de açúcar e de 30 bilhões de litros de etanol.

    Arroz O projeto Brazilian Rice quer elevar a fatia das exportações do cereal beneficiado, branco ou parboilizado para 50% neste ano. Hoje esse percentual está em 42%.

    Agregado A exportação desse tipo de arroz gera maior valor agregado. Já a venda externa de arroz em casca soma 18%, enquanto a de produto quebrado -de menor valor- atinge 40%.

    Vaivém das Commodities

    Por Mauro Zafalon

    Vaivém das Commodities

    Mauro Zafalon é jornalista e, em duas passagens pela Folha, soma 40 anos de jornal. Escreve sobre commodities e pecuária. Escreve de terça a sábado.

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