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    Vaivém - Mauro Zafalon

    Laranja amarga

    09/04/2016 02h00

    A produção norte-americana de suco de laranja caiu 60% nos últimos 15 anos. O que poderia ser motivo de euforia para a indústria brasileira, a líder mundial, traz, na verdade, muita preocupação.

    Se o Brasil é o maior produtor de sucos, os Estados Unidos são os principais consumidores. A desestruturação do setor naquele país encarece a produção, eleva os preços e reduz o consumo.

    É o que ocorreu. Nesse mesmo período, os preços do suco subiram 40%, derrubando o consumo em 45%.

    Claro que não são apenas os preços que provocam um recuo no consumo. Mudanças de hábito e preocupação de consumidores com determinados produtos –principalmente sobre boa parte dos utilizados no café da manhã– ajudam a reduzir o uso do suco. A imagem de produto calórico e com alta taxa de glicose pesa.

    Esse cenário afeta diretamente o Brasil, o maior produtor e exportador de suco.

    Essa alta nos preços no mercado norte-americano tem a ver com a queda na produção da Flórida, segundo Ibiapaba Netto, diretor-executivo do CitruBr (associação de produtores e exportadores de sucos cítricos). Manter uma estrutura fabril com redução de atividade torna a produção mais cara, diz ele.

    Essa situação acaba afetando a todos. Quando o mercado cresce, beneficia a toda a cadeia. Quando cai, prejudica a todos, afirma Ibiapaba.

    Esse cenário atual provavelmente nunca foi imaginado pelo setor há 15 anos, quando fez investimentos.

    Em 2000, quando produtores da Flórida renovavam ou plantavam parte de seus pomares, a produção de suco dos EUA atingia 1,1 milhão de toneladas. Atualmente, está em 423 mil.

    O consumo, com crescimento de 10% na safra 1999/00 em relação à anterior, animava o setor. Uma década e meia mais tarde, a situação é bem diferente. Em 2014/15, os norte-americanos consumiram apenas 613 mil toneladas, 11% menos do que na safra anterior.

    Diante do que ocorre nesse importante mercado, as indústrias brasileiras têm uma pergunta de difícil resposta. Qual o fundo do poço?

    Esse é um setor que, da lavoura à industrialização, faz investimentos de longo prazo. Sem um mínimo de previsibilidade, os passos futuros ficam difíceis.

    CANA

    Um exemplo são os próprios produtores brasileiros, cujas pomares foram substituídos por cana e outras culturas nos recentes anos.

    Produtores e indústrias da Flórida provavelmente não contavam com queda tão acentuada da produção de suco nos EUA nos últimos 15 anos. Ocupação imobiliária, furacões, avanço de doenças na lavoura –e queda de consumo– foram fatais para a redução de área e de produção.

    O resultado é que dados elaborados pelo Markestrat, com base em informações do FDOC (Florida Department of Citrus), apontam que, para cada ponto percentual de alta nos preços do suco, há uma retração de três pontos percentuais no consumo.

    Na safra de 2014/15, os preços subiram 4%. Já o consumo caiu 11%, apontam dados do departamento de cítricos da Flórida.

    As exportações brasileiras de suco de laranja para os Estados Unidos continuam, mas já com participação menor do que há 15 anos.

    MÉXICO

    Além dos problemas atuais de mercado, o Brasil enfrenta a concorrência do México, país que integra o Nafta, bloco econômico da América do Norte. Há 15 anos, os mexicanos exportavam 30 mil toneladas de suco para os EUA. Atualmente, são 84 mil.

    O consumo de suco é intrínseco ao hábito dos norte-americanos. É difícil pensar que isso não vai continuar, segundo Ibiapaba.

    De qualquer forma, preocupa o que acontece no mercado dos EUA, e um dos problemas é a dificuldade em fazer uma parceira entre os dois países, o que poderia aliviar a situação de ambos, acredita o diretor-executivo do CitruBr.

    Vaivém das Commodities

    Por Mauro Zafalon

    Vaivém das Commodities

    Mauro Zafalon é jornalista e, em duas passagens pela Folha, soma 40 anos de jornal. Escreve sobre commodities e pecuária. Escreve de terça a sábado.

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