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    Vaivém - Mauro Zafalon

    Sem acordo comercial, Brasil perde competitividade na Ásia

    29/04/2016 02h00

    Lalo de Almeida - 20.out.2014/Folhapress
    Vista do Porto de Santana, no Amapá; Brasil pode perder competitividade nas exportações para Ásia
    Vista do Porto de Santana, no Amapá; Brasil pode perder competitividade nas exportações para Ásia

    Apesar da importância da China, novas portas se abrem na Ásia para o comércio internacional. Uma delas é a do Vietnã, país que vem aumentando a participação no comércio mundial após a sua incorporação à Organização Mundial do Comércio, em 2007.

    O Brasil também vem se beneficiando dessa janela. As exportações brasileiras para o país asiático saltaram 377% nos últimos cinco anos, atingindo US$ 2,21 bilhões no ano passado. Desse volume, 73% são de produtos do setor do agronegócio.

    Apesar de ser um mercado promissor, o Brasil corre sério perigo de ter dificuldades no futuro para entrar por essa porta. O Tratado Transpacífico, que inclui acordo de negociações entre 12 países, vai colocar concorrentes diretos do Brasil nesse mercado.

    Um deles são os Estados Unidos, que têm economia similar à do Brasil quando se trata de agronegócio. Sendo que Vietnã e EUA pertencem a esse tratado, os norte-americanos já começam a fazer as contas com os possíveis negócios.

    Por ser um dos países que têm um crescimento rápido, o Vietnã aumenta a necessidade de importações de grãos, carnes e alimentos em geral. Brasil e Estados Unidos têm capacidade de fornecer esses produtos, mas os norte-americanos podem sair na frente devido ao tratado comercial.

    O Vietnã comprou o correspondente a US$ 2,3 bilhões em alimentos nos Estados Unidos no ano passado. No Brasil, as compras somaram US$ 1,6 bilhão nesse setor.

    O crescimento das importações vietnamitas no Brasil é grande. No primeiro trimestre deste ano, as exportações brasileiras no setor de agronegócio atingiram US$ 375 milhões, 303% mais do que as de janeiro a março de há cinco anos.

    O problema é o Brasil concorrer praticamente com os mesmos produtos com os Estados Unidos. E as taxas de importações vietnamitas serão, aos poucos, zeradas para os produtos norte-americanos, fazendo com o que os brasileiros percam competitividade.

    Um dos exemplo é o milho, produto líder da pauta das exportações brasileiras para o país asiático. Quando o Tratado Transpacífico estiver em vigor, os norte-americanos ficarão isentos das taxas de importações impostas pelos vietnamitas, hoje na casa dos 30% para os grãos e subprodutos.

    Entram nessa lista outros produtos importantes da balança do agronegócio brasileiro como as carnes bovina, suína e de frango. Todas elas têm atualmente taxas superiores a 30%, segundo pesquisa do Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos).

    Nessa mesma linha de taxas de importações estão incluídos soja, trigo e algodão. No caso do algodão, as taxas de importação estão próximas de 10% e devem ficar zeradas em quatro anos.

    Esse mercado é importante para o Brasil porque o Vietnã desenvolve cada vez mais a indústria têxtil e necessitará de muito algodão nos próximos anos.

    Mais uma vez, o Brasil cai na armadilha do isolamento. O país é uma das principais fontes de fornecimento de produtos do setor do agronegócio para o mundo, mas perde competitividade devido à falta de acordos comerciais, principalmente com países de grande participação no mercado mundial.

    Vaivém das Commodities

    Por Mauro Zafalon

    Vaivém das Commodities

    Mauro Zafalon é jornalista e, em duas passagens pela Folha, soma 40 anos de jornal. Escreve sobre commodities e pecuária. Escreve de terça a sábado.

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