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    Vaivém - Mauro Zafalon

    Consumidor de milho quer reunião com produtores

    04/06/2016 02h00

    A situação interna no fornecimento de milho e de farelo de soja é tão complicada que as indústrias consumidoras querem, ao lado da SPA (Secretaria de Política Agrícola), iniciar conversas com entidades de produtores nas próximas semanas.

    Já não se trata apenas de pagar muito por esses produtos, mas da ausência deles no mercado, diz Francisco Turra, da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal) e ex-ministro da Agricultura.

    Turra diz que as empresas consumidoras querem reuniões com produtores para se adequar à nova realidade de mercado e garantir o abastecimento interno.

    A ausência de produto internamente coloca em risco a produção de carnes, afeta o mercado de trabalho e pode chegar ao consumidor final.

    O também ex-ministro da Agricultura Alysson Paolinelli diz que o milho é o produto da vez no país. A produção será excepcional nos próximos anos, mas só a iniciativa privada vai resolver essa questão. "Produtores e consumidores precisam achar um meio de cooperação."

    Ele acredita que em 15 anos a iniciativa privada poderá elevar a produção nacional de milho para algo próximo a 200 milhões de toneladas. Atualmente, está perto de 80 milhões por ano.

    Glauber Silveira, produtor e ex-presidente da Aprosoja (entidade que congrega produtores de soja e de milho), adverte, no entanto, que a situação sempre foi muito cômoda para as indústrias.

    Agora elas terão que se preocupar mais, não só com a oferta do produto mas com os meios de comercialização.

    O governo foi ineficiente na política de estoques neste ano e este é um momento de transição que só será sanado com importações, diz ele.

    As tradings adquiriram 70% da produção de Mato Grosso —maior produtor— e, dependendo da quebra de produtividade, o percentual pode chegar a 90%.

    Para o futuro, Silveira acredita que o governo tem de entrar nesse mercado, mas para criar mecanismos de garantia e de seguro das operações feitas entre a iniciativa privada.

    "Como fica se um produtor fizer um contrato de venda no início da safra com um granjeiro e este, por causa de redução de preços do milho, rompê-lo? As tradings não rompem contratos", diz ele.

    Portanto, para as negociações futuras, é necessária a criação não só de instrumentos adequados como de tradição de negócio, diz Silveira.

    SOJA

    Mas não é só a situação do milho que é complicada. O mesmo ocorre com a da soja, diz Daniele Siqueira, da AgRural de Curitiba (PR).

    O Brasil exportou 30,8 milhões de toneladas até maio, e a Conab prevê exportações totais de 55 milhões no ano. Restam 24,2 milhões de junho a dezembro, 7,7 milhões menos do que em igual período de 2015.

    A demanda externa, principalmente a da China, continua, e a soja só poderá sair dos Estados Unidos. A produção da Argentina quebrou devido ao excesso de chuva, e o Brasil tem pouco a oferecer.

    Ou seja, os preços continuarão aquecidos, para desespero dos consumidores.

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    Juro rural engorda caixa de bancos

    O aumento das taxas de juros no Plano Safra deste ano deverá engordar em R$ 338 milhões o caixa dos bancos. Isso ocorre porque o governo elevou a taxa média em 0,75 ponto percentual em relação ao plano anterior.

    Parte dos recursos do crédito rural é das exigibilidades a que os bancos têm de destinar para o setor. Provém de juros equalizados e de depósitos à vista.

    A elevação da taxa sem uma contrapartida apenas engorda o lucro dos bancos, segundo a FPA (Frente Parlamentar da Agricultura).

    Para a frente, o valor estimado da exigibilidade seria de R$ 45 bilhões. A alta na taxa de juro de 0,75 ponto resulta em R$ 338 milhões a mais no caixa dos bancos.

    Daí a exigência de uma contrapartida, porque esse dinheiro ficaria no Banco Central com remuneração zero.

    A FPA acredita que o lucro adicional dos bancos deveria ser utilizado para ampliar ainda o volume de crédito.

    Se isso não ocorrer, elevam-se os gastos de um setor que está com forte evolução dos custos, transferindo ganhos para outro, o dos bancos, que tem uma das principais rentabilidades na economia brasileira, afirmam os analistas da frente.

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    Acima do esperado A situação dos consumidores de soja e de milho está realmente complicada. Os produtos estão com preços em que nem os mais otimistas produtores acreditavam.

    Soja A oleaginosa já tem alguns negócios, dependendo da forma de pagamento, acima de R$ 100 por saca no porto de Paranaguá (PR), uma das principais portas de saída da soja do país.

    Milho É outro produto que está com os preços nas nuvens. A saca foi negociada a R$ 60 em ponta Grossa nesta semana, 161% mais do que há um ano. No mesmo período, a soja teve alta de 45%.

    Novos caminhos As exportações de grãos pelos portos do Arco Norte somaram 19,4 milhões de toneladas em 2015. Em 2009, eram 7 milhões, segundo a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil).

    Arroz O escaneamento dos contêineres destinados à exportação já impacta a competitividade do arroz exportado pelo Brasil.

    Peso A Abiarroz (associação do setor) estima que o escaneamento tenha elevado em 1,5% o custo do produto e onerado o setor em R$ 1,5 milhão em um ano.

    Etanol Redução de moagem, devido a chuvas, e oferta menor de produto
    fizeram o preço médio do etanol hidratado subir 0,64% na cidade de São Paulo nesta semana. O litro foi a R$ 2,30, aponta pesquisa da Folha.

    Nova York O açúcar voltou a subir e acumula alta de 15% em 30 dias.

    Vaivém das Commodities

    Por Mauro Zafalon

    Vaivém das Commodities

    Mauro Zafalon é jornalista e, em duas passagens pela Folha, soma 40 anos de jornal. Escreve sobre commodities e pecuária. Escreve de terça a sábado.

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