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    Vaivém

    Índia pode ser a salvação da "lavoura" da região Sul do Brasil

    11/10/2016 02h00

    Amit Dave/Reuters
    Fiéis carregam potes de barro com água durante procissão que marca o fim do festival Chaliha, na cidade de Ahmedabad (Índia)
    Fiéis carregam potes de barro com água durante procissão que marca o fim do festival Chaliha, na cidade de Ahmedabad (Índia)

    A China foi a grande mola propulsora para o desenvolvimento da agricultura brasileira nas extensas áreas do Centro-Oeste. Agora é a vez de a Índia dar nova vida à agricultura brasileira, principalmente à do Sul do país.

    A Índia, que tem tido um crescimento econômico de 6% a 7% nos últimos anos, vai ultrapassar os chineses em população nos anos 2050. A necessidade por alimentos vai explodir, mas o país tem recursos naturais limitados.

    É difícil imaginar que haverá uma sustentabilidade alimentar para tanta gente sem mudanças radicais.

    O país tem um um sistema agrário fragmentado. Não tem espaço para grandes fazendas ou para agricultura empresarial e industrial.

    A avaliação é de Maurício Lopes, presidente da Embrapa, que esteve em recente visita à Índia com o ministro da Agricultura, Blairo Maggi.

    "O Brasil tem de olhar a Índia com mais carinho. O país não tem como incorporar conhecimento e tecnologia em velocidade que o permita dar saltos, ao contrário do que ocorreu com o Brasil", diz ele.

    "Não acordamos para o potencial dos indianos, e as relações comerciais entre Brasil e Índia são frágeis. Não é uma relação de comércio forte, parecido com o da China", diz.

    O presidente da Embrapa acredita que as necessidades alimentares da Índia podem dar vida principalmente à atividade agrícola na região Sul brasileira, onde haverá oportunidade de diversificação da atividade e de produtos com maior valor agregado.

    Os indianos vão ficar muito dependentes de importações de alimentos, e muitos desses produtos têm adaptação melhor no Sul do Brasil.

    Para Lopes, é importante essas novas alternativas agrícolas para o Sul. É complicado imaginar um futuro em que Rio Grande do Sul e parte de Santa Catarina continuem competindo com produções de soja e de milho, levando em consideração a escala que eles têm.

    A marca mais clara da dependência externa dos indianos é a demanda por leguminosas, que eles chamam de pulses. Em dois a três anos vão importar 7 milhões de toneladas. Em 2030, serão de 30 milhões a 35 milhões.

    As pulses são um conjunto de espécies de leguminosas que produzem grãos de maior qualidade nutricional: grão de bico, lentilha, tipos de feijão etc.

    São produtos consumidos em grande escala e que são importantes na alimentação dos indianos, já que boa parte deles é vegetariana.

    Potencial

    A opção pela Índia se justifica porque o potencial de importações deles é absurdo. A China também é importante, mas o fato de o país colocar muitos ovos em um cesto só é perigoso.

    A Embrapa, que está prestes a assinar um acordo com a Icar (a Embrapa indiana), vai testar material genético dessas espécies.

    Além de usar o seu banco genético, que tem mais de 1.500 dessas espécies, a Embrapa trará material comercial já desenvolvido na Índia.

    A empresa brasileira desenvolve, ainda, um acordo com a UPL, empresa indiana da área de agroquímicos.

    A demanda indiana que pode ser abastecida pelo Brasil vai de leguminosas a frango, óleos e produtos lácteos.

    Lopes diz que muitos dos materiais cultivados na Índia se adaptam ao Brasil, uma vez que a parte sul indiana está no cinturão tropical.

    A Embrapa já tem lentilha e grão de bico adaptados no Brasil, inclusive com produtividade de 2.500 e 2.700 quilos por hectare neste último. Na Índia, a produtividade não é nem metade da brasileira: de 800 a 1.200 quilos.

    A empresa fará uma rede de testes com a UPL. Vai importar materiais indianos, verificando zonas de adaptação, altitude e temperaturas na Índia e no Brasil.

    Mas a Embrapa vai desenvolver também produtos de seu banco genético com alto potencial de produção e adaptação às áreas tropicais e subtropicais do Brasil.

    "São etapas. Queremos ganhar tempo e trazer material já acabado, enquanto ganhamos tempo para desenvolver nossos próprios programas mais bem adaptados à realidade do Brasil", diz Lopes.

    Esses acordos são importantes porque os brasileiros começam a entender como essas instituições funcionam. "É outra cultura. Se não aprendermos a dialogar, talvez nunca vamos aprender a negociar com eles."

    Lopes acredita que o Brasil tem de estabelecer boas relações com novos mercados para elevar a participação no comércio mundial.

    Mas ele não crê em voos solos da Embrapa. É preciso a ação do governo e do setor privado. Os empresários têm de ir para esses mercados com segurança e ajudar a produzir riquezas para o Brasil.

    Lopes diz que o país não pode ficar restrito apenas ao circuito de países convencionais. É preciso buscar novos mercados, como foi a agenda do ministro Blairo Maggi em recente viagem para vários países da Ásia.

    Vaivém das Commodities

    Por Mauro Zafalon

    Vaivém das Commodities

    Mauro Zafalon é jornalista e, em duas passagens pela Folha, soma 40 anos de jornal. Escreve sobre commodities e pecuária. Escreve de terça a sábado.

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