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    Vaivém - Mauro Zafalon

    Indústria volta a discutir importação de café em período de baixa oferta

    25/11/2016 02h00

    Eduardo Knapp/Folhapress
    521601_1.tif. Caderno EQUILIBRIO; Cafe faz bem ao para o Coracao.Foto de xicara de cafe com espuminha em forma de coracao, da casa Suplicy Cafe(Sao Paulo, SP.19.04.2006. 16h. Foto Eduardo Knapp/Folha Imagem. Digital)
    Setor debate "importação de café" em período de baixa oferta

    O tema "importação de café" está sendo um dos assuntos dominantes no Encafé deste ano, um encontro anual que a indústria realiza para discutir o setor.

    A presença desse assunto já era esperada nas discussões mesmo antes de o encontro começar. É um tema recorrente e sempre toma fôlego no período de baixa oferta de café.

    Neste ano, a produção de café conilon teve intensa queda no Brasil. Sem poder importar, a indústria brasileira está reduzindo a mistura desse tipo de café ao do arábica para fazer o blend da bebida.

    Uma das consequências dessa redução de oferta foi a disparada dos preços do café conilon. Tradicionalmente com valores menores do que o do arábica, o preço do colinon chegou a superar o do arábica em alguns períodos deste ano.

    Ricardo Silveira, presidente da Abic (Associação Brasileira da Indústria de Café), levantou o tema no encontro. "É preciso quebrar paradigmas. Não sou contra nem a favor das importações, mas precisamos trazer à tona essa discussão."

    João Lopes Araújo, presidente da Assocafé (Associação dos Produtores de Café da Bahia), diz que o mercado, se for tomada essa decisão, precisa de regras claras.

    Essas regras devem conter limites para a importação, qualidade e avaliação fitossanitária do produto, além de não permitir a entrada de cafés "com preço de lixo", o que derrubaria o valor do produto nacional.

    Silveira diz que o governo tem ferramentas para impor regras e que o mercado não deve trazer volumes além do necessário. As importações não são para desregular o mercado.
    "Não queremos guerra de preços e nem queda de braços", diz ele.

    Para Lopes, o Brasil não tem como competir com o Vietnã, uma vez que os custos sociais dos produtores brasileiros são bem maiores do que os daquele país.

    Sem regras claras, a indústria poderá "matar o produtor", sofrendo também as consequências mais tarde, acrescenta Lopes.

    Pedro Lima, do grupo 3Corações, também vê a necessidade de regras claras para a importação, mas diz que falta velocidade para essas discussões.

    Ele acredita que a aprovação das importações não deve ocorrer neste ano. Virá a nova safra e as discussões podem esfriar.

    FILIAIS

    Lima alerta, no entanto, para o fato de que a legislação brasileira, proibindo a importação de café verde e permitindo a de café torrado e moído, vai levar as indústrias nacionais a abrir filiais na Argentina ou outros países vizinhos.

    A indústria importaria café verde de outros países, industrializaria nesses países vizinhos e, sem seguida, o enviaria para o Brasil.

    Sydney Marques de Paiva, presidente da Bom Dia, concorda com Lima. Com uma indústria em operação nos Estados Unidos, ele é obrigado a importar o café brasileiro e de outras origens do mundo para fazer o blend desejado. Parte desse café retorna para o Brasil de forma industrializada. Além do custo para a empresa, o país perde fábricas, empregos e impostos, segundo ele.

    "Não tem sentido como está. Somos proibidos de importar café verde, mas liberamos as importações de café industrializado, como os da Colômbia."

    A lei está protegendo as multinacionais. "Ou fecha para todos ou libera para todos", diz ele.

    Na avaliação de João Lopes, "para se contrapor à nossa legislação fiscal e trabalhista, poderíamos estabelecer uma taxa de equalização para formação de um fundo para a proteção do produtor".

    Nathan Herszkowicz, secretário-executivo da Abic, diz que, com a ausência do café conilon no mercado interno, há também uma disputa pelo arábica,
    pelo arábica, que aumenta de preço.

    Com isso, o consumidor está pagando mais pela bebida. "O setor já sente queda do volume vendido nas prateleiras, embora os valores de vendas ainda continuem crescendo devido à elevação dos preços", diz Paiva.

    A Abic retomou a pesquisa de um índice que mostra como está o fornecimento de café no país. Chamado de IOCI (Índice de Oferta de Café para a Indústria), o índice se mostra "critico" nas últimas semanas, diz Herszkowicz.

    A Abic realiza o Encafé em Comandatuba (BA). O evento termina neste sábado (26).

    O jornalista viajou a Comandatuba a convite da Abic

    Vaivém das Commodities

    Por Mauro Zafalon

    Vaivém das Commodities

    Mauro Zafalon é jornalista e, em duas passagens pela Folha, soma 40 anos de jornal. Escreve sobre commodities e pecuária. Escreve de terça a sábado.

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