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    Vaivém das Commodities - Mauro Zafalon

    Há 12 anos, irmãos da JBS já protagonizavam gravação polêmica

    23/05/2017 02h00

    Zanone Fraissat/Folhapress
    Os irmãos Wesley Batista (esq.) e Joesley Batista (dir.), donos da JBS
    Os irmãos Wesley Batista (esq.) e Joesley Batista (dir.), donos da JBS

    Há 12 anos, Joesley Batista sofreu na carne uma ação semelhante à que protagonizou no Palácio do Jaburu, vinda a público na semana passada.

    Desta vez, foi ele quem levou o gravador a uma reunião com o presidente Michel Temer; em 2005, o aparelho estava em outras mãos.

    Na ocasião, ao lado do irmão José Batista Junior, então um dos proprietários do frigorífico Friboi, foi alvo de uma gravação clandestina.

    Era o início da ampliação do grupo, que, com dinheiro do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), adquiria unidades frigoríficas em dificuldades financeiras.

    Ao comprar, assumia as dívidas das empresas, mas pedia ao banco dinheiro extra como capital de giro para gerir os negócios do frigorífico em dificuldades.

    Uma série de reportagens publicadas na Folha em 2005 revelou que, em gravação, os donos da Friboi admitiam formação de cartel no setor de carne e ilegalidades nos contratos com o BNDES.

    José Batista Junior dizia, no registro gravado, que o seu frigorífico e outros três determinavam os preços de mercado do boi gordo.

    Seu irmão Joesley Mendonça Batista, por sua vez, reconheceu ter contrato de gaveta com o BNDES. A informação apareceu em gravação de conversa feita por executivos do frigorífico Araputanga, à qual a Folha teve acesso.

    Foram muitos os percalços enfrentados pelo Friboi, mas nada que comprometesse o avanço rápido da empresa.

    De um lado, Batista Junior, com pretensões de ser governador de Goiás pelo PSDB, viu o sonho se desmilinguir.

    De outro, a empresa foi acusada de fazer exportações para a União Europeia e para Rússia por meio de um expediente: a fim de enviar carnes não autorizadas para essas regiões, usava um número de SIF (Sistema de Inspeção Federal) de um frigorífico de uma área liberada.

    À época, tanto o BNDES como o Friboi e os demais frigoríficos envolvidos no escândalo refutaram as acusações.

    A grita de pecuaristas e varejistas fez que a Câmara de Agricultura exigisse a suspensão de novos empréstimos do BNDES —até então em R$ 568 milhões— para o Friboi, o que, todavia, não surtiu efeito.

    Além disso, Câmara e Senado resolveram criar uma Comissão Parlamentar de Inquérito Mista, que, porém, não foi adiante. Parlamentares disseram que as irregularidades existiam, mas as discussões prejudicariam a imagem do Brasil no exterior.

    Nascia ali a escalada exponencial do Friboi no mercado interno e externo. A ausência de discussões sérias naquele momento deu asas ao surgimento da maior empresa de carnes do mundo.

    Embora a fita tenha sido periciada por Ricardo Molina, da Unicamp, Wesley Mendonça Batista, outro sócio do Friboi, disse, à época, que ela era uma montagem.

    Vaivém das Commodities

    Por Mauro Zafalon

    Vaivém das Commodities

    Mauro Zafalon é jornalista e, em duas passagens pela Folha, soma 40 anos de jornal. Escreve sobre commodities e pecuária. Escreve de terça a sábado.

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