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    Vaivém das Commodities - Mauro Zafalon

    Soja segue exemplo do café e não vai além da exportação de grão

    17/10/2017 02h00

    Ruy Baron/Valor/Folhapress
    PRIMAVERA DO LESTE, MT, 12.09.2013: AGRONEGÓCIO-MT - Início do plantio de soja da safra 13/14. (Foto: Ruy Baron/Valor/Folhapress)
    Plantio de soja no Mato Grosso

    Há décadas, o Brasil é líder mundial na produção e na exportação de café. O país se distancia cada vez mais, porém, das receitas mundiais geradas por esse produto.

    A industrialização e a geração de "blends" (misturas) para a bebida com cafés de diferentes regiões do mundo são o que interessam hoje ao mercado internacional.

    O Brasil, contudo, fecha as portas a esse tipo de industrialização e comercialização da bebida, proibindo a importação de café verde.

    Com isso, o café perde espaço nas receitas externas obtidas pelo país com as exportações do agronegócio.

    É a soja que agora ganha corpo. O Brasil é o maior exportador da oleaginosa e caminha também para ser o maior produtor mundial, desbancando os Estados Unidos.

    A soja segue, porém, o caminho do café. Enquanto a exportação de soja em grãos da Argentina atinge apenas 14% do que ela produz, a do Brasil é de 60%. A tributação argentina dificulta a exportação do grão, ao contrário da brasileira, que a facilita.

    O Brasil necessita exportar soja em grãos –e vai continuar exportando–, mas deveria aumentar mais a industrialização do produto, acrescentando valor agregado.

    Isso não será fácil, uma vez que o maior importador do mundo, a China, já se antecipou e definiu como quer a matéria-prima.

    Os chineses facilitam as importações de grãos e dificultam as de farelo e de óleo.

    O cenário para o mercado ficará ainda mais complicado nos próximos anos.

    Afinal, as tradicionais "tradings" começam a sofrer a concorrência de grandes estatais chinesas, que estão adquirindo empresas no setor e entrando na comercialização de soja.

    PROTEÍNAS

    O crescimento interno da produção de proteínas já dá mais espaço para a industrialização. A agregação de valor poderá vir ainda da utilização maior da matéria-prima como fonte energética, tanto na produção de biodiesel como na de etanol.

    Dados da Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais) apontam que a elevação da taxa de mistura do biodiesel ao diesel dos 8% atuais para os 10% esperados para o próximo ano aumentaria a moagem de soja para 43 milhões de toneladas, 1,5 milhão mais.

    A moagem de soja especificamente para a produção de biodiesel subiria para 17,9 milhões de toneladas, 17% da produção do país. A soja tem participação de 75% na matéria-prima usada na fabricação do biodiesel.

    A produção de óleo de soja sairia dos atuais 8,2 milhões de toneladas para até 8,5 milhões. Deste volume, 3,6 milhões seriam usados na produção de biodiesel.

    Isso, além de elevar o valor agregado da soja, reduziria a importação de óleo diesel pelo país e a emissão de poluentes.

    Tomando como base um crescimento de 2% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2018, a Abiove estima um consumo de 56 bilhões de litros de diesel B para o período. O consumo total de biodiesel seria de 5,4 bilhões de litros, prevê a associação.

    Esses cálculos consideram uma mistura de 8% de biodiesel ao diesel nos meses de janeiro e fevereiro e de 9% ou de 10% de março a dezembro do próximo ano.

    A industrialização interna da soja, contudo, vai exigir uma política mais agressiva do país nas negociações com tradicionais importadores de soja e seus derivados.

    Vaivém das Commodities

    Por Mauro Zafalon

    Vaivém das Commodities

    Mauro Zafalon é jornalista e, em duas passagens pela Folha, soma 40 anos de jornal. Escreve sobre commodities e pecuária. Escreve de terça a sábado.

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