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    Valdo Cruz

    O mascate e o nosso futuro

    26/02/2013 03h00

    Ministro da Fazenda, Guido Mantega assume hoje o papel de mascate do Brasil e começa, em Nova York, um "road show" para tentar vender a investidores estrangeiros o programa de concessões de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos. Em sua apresentação, o próprio Mantega admite que o país depende deste programa para dar dinamismo à nossa economia. Na verdade, depende e muito.

    O fato é que, se o programa brasileiro não vingar, nossa economia vai continuar patinando e terá de se contentar com taxas fracas de crescimento nos próximos anos, como as registradas nos dois últimos períodos, que marcam a primeira metade do governo Dilma.

    É inegável que a presidente e sua equipe econômica deram passos importantes para que o Brasil tenha uma economia mais civilizada. As taxas de juros caíram para 7,25%, foi feita uma mudança importante nas regras da caderneta de poupança, aprovou-se enfim um novo regime de aposentadoria no setor público, começou um processo de desoneração da folha de pagamento e o custo da energia elétrica caiu.

    Tudo isso somado indicava um período de mais prosperidade no país. Só que a realidade econômica, hoje, não reflete esse cenário de mudanças. A inflação começou o ano em alta, a ponto de o Banco Central admitir que ela está mostrando uma "resistência" bem maior do que a prevista em cair. E o ritmo da economia brasileira ainda não é dos melhores, na realidade, ainda é fraco, tanto que a geração de empregos registrou, em janeiro, um dos piores resultados dos últimos tempos.

    A chave da questão está nos investimentos. Eles simplesmente ficaram travados nos últimos meses, resultado, segundo empresários, não só do cenário ruim na economia internacional mas também de uma política considerada intervencionista demais adotada pelo Palácio do Planalto.

    O governo Dilma parece ter demorado a perceber o que estava acontecendo. Preferia adotar um estilo e um discurso que, de certa forma, demonizava o empresariado. Entre assessores presidenciais, era comum ouvir, no ano passado, que os empresários só querem vida fácil, querem ganhar muito sem concorrência e por aí vai. Em parte, estavam até certos. Mas só em parte. O erro foi radicalizar no discurso e na prática. Deu no que deu. Investimentos fracos, contribuindo de forma decisiva para o fraco desempenho da economia.

    Agora, o governo parece disposto a mudar de rumo. Na verdade, já mudou em meados do ano passado, quando começou a lançar seu Programa de Investimento em Logística, decidindo transferir para o setor privado investimentos em rodovias, ferrovias, portos e aeroportos. Ainda assim cometeu alguns equívocos, como definir regras pesadas demais, que poderiam inviabilizar os leilões.

    Aí a equipe da presidente Dilma admitiu o erro e fez as correções de rumo. Tanto que, hoje, em Nova York, Guido Mantega vai anunciar taxas de retorno do investimento bem mais atraentes. Tudo na busca de garantir a participação de investidores nacionais e estrangeiros no programa brasileiro. Entramos, na realidade, numa corrida contra o tempo. Não dá mais para postergar investimentos em nossa caótica infraestrutura. E o governo descobriu que sozinho não consegue bancar a conta. O ideal, por sinal, era que todo esse programa estivesse pronto e já em andamento, com as licitações sendo feitas no ano passado. Não deu. Tomara que, agora, saia do papel.

    valdo cruz

    Escreveu até fevereiro de 2017

    Foi repórter especial da Folha. Cobriu os bastidores do mundo da política e da economia em Brasília.

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