• Colunistas

    Sunday, 19-May-2024 13:19:28 -03
    Valdo Cruz

    Sinais de alerta

    05/03/2013 03h00

    Vem aí, tudo indica, o primeiro sinal de alerta concreto de que a inflação passou a ser a maior preocupação do governo Dilma. Nesta semana, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central reúne-se para decidir se faz ou não ajustes na política monetária diante das pressões inflacionárias. Posso estar enganado, mas o comitê deve manter a taxa de juros em 7,25% ao ano, mas emitir sinais de que ela pode subir nos próximos encontros, talvez até no seguinte, em abril.

    Muito possivelmente vai desaparecer aquela expressão, contida nos últimos comunicados e atas do Copom, de que a atual política monetária pode ser mantida por "tempo suficientemente prolongado" para garantir a convergência da inflação para o centro da meta, de 4,5%, no médio prazo. E deve surgir uma nova expressão indicando que o BC está em estado de alerta e pronto para agir caso a inflação, hoje acima de 6% na taxa anualizada, continue demonstrando resistência em cair.

    Aí pode pesar e muito o resultado do IPCA, índice oficial para o sistema de metas, de fevereiro. Por conta do corte nas tarifas de energia elétrica, entre outros motivos, o BC trabalhava com a avaliação de que o índice do mês passado seria cerca de metade do de janeiro, que bateu em 0,86%. Só que já tem analista prevendo que o IPCA pode não cair tanto assim. Vai cair, mas não tanto na direção que o BC esperava. O que pode dar mais elementos para que o banco comece a analisar se muda de estágio na sua luta contra a inflação.

    Em outras palavras, pode deixar apenas de ameaçar e agir, o que significa subir as taxas de juros, pelo menos se está valendo o que o governo tem dito nas últimas semanas, de que este é o instrumento mais importante para combater a inflação. A dúvida é quando, de fato, começaria a reagir. O mercado já começa a apostar mais concretamente que o BC pode fazer dois movimentos de alta dos juros neste ano, cada um de 0,25 ponto percentual. Com isso, a taxa Selic terminaria 2013 em 7,75%.

    Só que o Palácio do Planalto não vai ficar apenas como observador neste cenário. Já emitiu sinais, inclusive, de que adotará medidas para ajudar o BC no combate à inflação.

    Desonerações tributárias estão no forno e vão sair em breve --o que deve ajudar a segurar um pouco os preços. O que o Palácio do Planalto não deseja é que a inflação se mantenha em alta neste ano e entre 2014, o da campanha da reeleição, no mesmo rumo. Seria dar munição aos candidatos da oposição. Por sinal, inflação em alta no ano da eleição servirá como estímulo para que o presidente do PSB, o governador Eduardo Campos, entre mesmo na eleição presidencial.

    Ou seja, a ordem agora é mesmo frear a inflação, por motivos econômicos e políticos. Numa dose, porém, que não desacelere o crescimento econômico, que ainda não é dos melhores. A conferir.

    valdo cruz

    Escreveu até fevereiro de 2017

    Foi repórter especial da Folha. Cobriu os bastidores do mundo da política e da economia em Brasília.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024