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    Valdo Cruz

    Tempo de gratidão

    26/12/2016 02h00

    Paulo Whitaker/Reuters
    Sede da Odebrecht em São Paulo
    Sede da Odebrecht em São Paulo

    BRASÍLIA - O Datafolha mostra que nove entre dez brasileiros agradecem, em primeiro lugar, a Deus pelo sucesso financeiro. Claro que a prosperidade depende sempre de cada um e da economia como um todo, mas o sentimento de gratidão revelado pela pesquisa me leva a refletir sobre o tema neste Natal.

    Sem entrar no mérito das respostas da pesquisa, o ato de agradecer, seja lá quem for, é algo que deveria ser cultivado por todos. Gratidão gera gratidão. Daí que agradecer até a quem não é totalmente responsável por nosso sucesso já é um bom caminho. Mal, com certeza, não faz.

    Por isso agradeço a todos, Deus inclusive, que fizeram de 2016, período tão desafiador, um tempo de conquistas forjadas por mim. E que finda de forma especial por causa de seres especiais que estiveram e chegaram ao longo deste ano maluco, que parecia não querer acabar.

    Saindo do campo pessoal e indo para o da política, a arte da gratidão nesta seara não é algo muito comum. Em nome de projetos pessoais, o que mais acontece são gestos de ingratidão. Abandona-se amanhã o aliado de hoje com uma naturalidade muito assustadora.

    Não por outro motivo costuma-se aconselhar aos governantes que não levem para o poder seus amigos. Exatamente porque, em tempos de crise, não devem ser poupados. O projeto de poder sempre em primeiro lugar. Nada mais cruel.

    Por sinal, o tipo de gratidão mais praticado na política não é nada recomendável e, até que enfim, tem gerado prisões. É o dando que se recebe, o toma-lá-dá-cá, a doação em troca de contratos superfaturados em estatais e órgãos federais.

    Resultado: nesta reta final de ano os gabinetes de Brasília foram tomados por um temor de prisão, nunca antes tão real e possível, diante da delação da empreiteira Odebrecht.

    Aí está algo que o brasileiro deve agradecer neste ano: a Operação Lava Jato. Vida longa a ela, para desespero do mundo da política.

    valdo cruz

    Escreveu até fevereiro de 2017

    Foi repórter especial da Folha. Cobriu os bastidores do mundo da política e da economia em Brasília.

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