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    Vanessa Grazziotin

    Vaia olímpica

    09/08/2016 02h00

    Mark Humphrey/Associated Press
    Brazil interim President Michel Temer declares the opening of the 2016 Summer Olympics during the opening ceremony in Rio de Janeiro, Brazil, Friday, Aug. 5, 2016. (AP Photo/Mark Humphrey, Pool) ORG XMIT: OLMH123
    O presidente interino, Michel Temer, declara abertos os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro

    O Brasil ofereceu ao mundo uma das mais belas e exuberantes aberturas de Jogos Olímpicos. Para nosso orgulho, lá estava o talento de muitos parintinenses da linda Ilha Tupinambarana, onde se realiza o majestoso festival dos Bois-Bumbás Garantido e Caprichoso.

    O ponto fora da curva foi o interino Michel Temer. Com suas contradições a cada dia mais expostas e acossado por pesquisas que indicam que a maioria do povo brasileiro não o quer, ele se submeteu ao constrangimento de ordenar que seu nome não fosse mencionado em momento algum por temor de vaias.

    Finalmente ao falar, sem nem sequer ser anunciado, fez, de forma camuflada, a abertura oficial das Olimpíadas por meio de curta e balbuciante declaração, abafada por estrondosa vaia, noticiada por todos os meios de comunicação do Brasil e do mundo.

    A vida é feita de gestos. Eles revelam o caráter das pessoas e explicam por que há tanta diferença de atitude entre uma presidenta legítima e um usurpador, como se pôde constatar na abertura de dois megaeventos — Copa do Mundo e Olimpíada —, ambos, aliás, conquistados nos governos de Lula e Dilma.

    Na abertura da Copa, a presidenta Dilma Rousseff foi agredida, xingada, desrespeitada, violentada por palavras preconceituosas e machistas, mas lá estava ela, de pé, altiva, enfrentando tudo de cabeça erguida. No ato solene da Olimpíada, o interino Temer se escondeu. Quanta diferença!

    Enquanto Dilma tinha consciência de sua legitimidade e pressentia que era apenas vítima de uma trama golpista, o usurpador igualmente tem consciência de sua ilegitimidade e fragilidade, tanto porque sabe que sua "interinidade" foi obtida por tramas sórdidas e ilegais, como pela repulsa popular, que se agiganta.

    Coincidentemente, no mesmo dia da abertura da Olimpíada, foi divulgado pela "Carta Capital" que em torno de 80% da população não quer Temer, o que explica as fundadas preocupações do interino em tentar se esconder de vaias. Afinal, os parlamentares, especialmente os senadores, sabem que não há crime de responsabilidade.

    Afastaram a presidenta baseados no chamado "conjunto da obra", sob o pretexto de que Dilma tinha perdido o apoio popular e, portanto, a governabilidade. E agora, com a coerência cobrando atitude idêntica, como se comportarão as senadoras e senadores diante dessa gigantesca repulsa popular a Michel Temer?

    Ficar do lado justo é estar ao lado do povo, mesmo que o senso comum não o perceba! Mas a história e o tempo são implacáveis! Repõem tudo em seu devido lugar, pois como afirma Goethe, "a sentença falada se dedica ao presente e o que se escreve ao futuro", especialmente quando se sabe que "pensar é fácil; agir é difícil; e agir conforme o que pensamos é mais difícil ainda".

    É farmacêutica, senadora pelo PCdoB do Amazonas e procuradora especial da mulher do Senado.

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