• Colunistas

    Wednesday, 08-May-2024 05:24:32 -03
    Vanessa Grazziotin

    Defensores do impeachment jamais se livrarão da pecha de golpistas

    30/08/2016 02h00

    Ueslei Marcelino/Reuters
    Brazil's suspended President Dilma Rousseff attends the final session of debate and voting on Rousseff's impeachment trial in Brasilia, Brazil, August 29, 2016. REUTERS/Ueslei Marcelino ORG XMIT: BRA136
    Dilma Rousseff faz a sua defesa no Sendado durante julgamento do impeachment

    Apesar da aparente normalidade na vida de todos, que seguem uma rotina diária como se fosse apenas mais um dia de trabalho, aula ou lazer, vivemos um tempo nada normal. Hoje, último dia de debates antes da votação do golpe — a farsa que eles chamam de impeachment —, chegamos ao ápice de uma luta política de praticamente dois anos.

    São três os objetivos: parar as investigações da Lava Jato, interromper os programas sociais e voltar a aplicar a política derrotada quatro vezes nas urnas: o neoliberalismo, modelo pelo qual se pretende adotar o Estado mínimo, privatizações e ataque aos direitos dos trabalhadores.

    No seu discurso desta segunda (29), no Senado, a presidenta Dilma destacou o perigo que representa o golpe para as conquistas sociais dos últimos 13 anos; para o pré-sal; para o salário mínimo; para o piso das aposentadorias; para os direitos e garantias sociais previstas na CLT; para a conquistas das minorias.

    Dilma ressaltou ainda: "O que está em jogo no processo de impeachment não é apenas o meu mandato. O que está em jogo é o respeito às urnas, à vontade soberana do povo brasileiro e à Constituição".
    Ela foi perfeita no que diz respeito aos aspectos político, técnico e histórico. Frases como "cassar em definitivo meu mandato é como me submeter a uma pena de morte política" e "hoje só temo a morte da democracia", ficarão para sempre na história política do país.

    Devemos destacar que a presidenta, ciente de que é vítima de uma farsa, enfrenta tudo de forma altiva e corajosa. Se junta ao povo, conversa com intelectuais, sindicalistas, lideranças populares e artistas. Enfrenta respeitosamente os senadores e senadoras. Enfim, luta como uma mulher!

    O Senado, portanto, está chamado perante o tribunal da história para decidir entre a defesa da democracia ou a consolidação do golpe parlamentar que jogará no lixo o voto de 54 milhões de brasileiros. Não nos prestemos a ser coveiros da democracia! É um caminho perigoso.

    No golpe de 1º de abril de 1964, também havia parlamentares histriônicos que apostaram nas benesses de um novo arranjo político apartado do desejo das urnas. A história foi impiedosa com eles, os trata como escória. Isso é o que restou do senador Auro de Moura Andrade, que legitimou a sessão ilegal que cassou Jango, ou de Ranieri Mazzili, o interino que inaugurou a longa noite de presidentes sem voto.

    As senadoras e senadores precisam refletir bastante sobre como querem ser reconhecidos pela história. Meus colegas, desculpem-me, mas aqueles que optarem pelo caminho da ilegalidade e da covardia jamais se livrarão da pecha de golpistas, que é como a história lhes brindará.

    É farmacêutica, senadora pelo PCdoB do Amazonas e procuradora especial da mulher do Senado.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024