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    Vanessa Grazziotin

    Vamos às urnas em clima de absoluta instabilidade política

    27/09/2016 02h00

    Alan Marques 03.out.2014 / Folhapress
    BRASÍLIA, DF, BRASIL, 03.10.2014. às 10H20. Fac-simile da urna eletrônica que será usada no próximo domingo é exposta na entrada do auditorio do TSE. O Tribunal Superior Eleitoral promove encontro para apresentar o processo eleitoral brasileiro para os observadores internacionais das eleições de 2014. (FOTO Alan Marques/ Folhapress) PODER
    Urna eletrônica usada durante as eleições

    A cinco dias das eleições, a população é chamada a escolher seus representantes entre nada menos do que 496.888 candidatos, que disputam as 5.568 prefeituras e as 57.958 vagas de vereadores.

    Além das novidades, devido às mudanças na legislação eleitoral, que reduziram a campanha tanto no tempo quanto nos meios, é diante de um clima da mais absoluta instabilidade política que iremos às urnas.

    O momento político, portanto, além de singular, é de extrema gravidade. Gravidade provocada por uma maioria parlamentar formada conjunturalmente e em torno de interesses políticos diversos e nada republicanos.
    Então vejamos. Dias depois de consolidado o golpe parlamentar que usurpou a vontade popular, transformou em pó o voto de mais de 54 milhões de brasileiros e tirou Dilma da Presidência, os conservadores querem fazer crer que tudo está na mais absoluta normalidade. Quanta ironia!

    No exterior, Temer fala na ONU e, com certo cinismo, diz que tudo foi feito dentro dos limites e respeito constitucional, enquanto Meirelles concede entrevista coletiva prestando contas aos comandantes do grande capital, sobre o andamento das reformas por eles pactuadas.

    Por aqui os escândalos se sucedem. Novas delações envolvem diretamente Temer em denúncias de corrupção. Aparece a filiação de 15 anos no PSDB da nova ministra "independente" da AGU. O ministro da Justiça (ex-advogado de Eduardo Cunha e do PCC) antecipa ações da Operação Lava Jato. Claro, tudo isso sem qualquer destaque na grande mídia, que se ocupa exclusivamente do PT, desta feita da prisão, num hospital, logo revogada, do ex-ministro Mantega, e, nesta segunda (26), do ex-ministro Antonio Palocci.

    Para completar o quadro, Temer edita uma nova medida provisória, no mínimo inusitada, promovendo uma reforma educacional. Como assim? Reformar o ensino médio por MP? Seria impensável se vivêssemos tempos de democracia. Mas não tenho dúvidas de que o real objetivo é desviar a atenção do foco principal, ou seja, da luta em defesa da democracia e dos direitos ameaçados.

    E as eleições de domingo? A reação da população tem sido revelada pelas diversas pesquisas — mais de 50% ainda não sabe em quem votar. O reflexo mais comum é, portanto, desinteresse e até repulsa generalizada pela política e, sobretudo, pelos partidos políticos. O que é lamentável, pois não se muda a política senão pela própria política.

    Recorro a Bertolt Brecht para dizer que não podemos deixar que a desesperança, a frustração e a revolta sejam a marca da reação popular: "Que continuemos a nos omitir da política é tudo o que os malfeitores da vida pública mais querem".

    É farmacêutica, senadora pelo PCdoB do Amazonas e procuradora especial da mulher do Senado.

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