• Colunistas

    Saturday, 04-May-2024 02:53:28 -03
    Vanessa Grazziotin

    O porquê da pressa em aprovar a PEC 241

    18/10/2016 02h00

    Marlene Bergamo(11.out.2016)/Folhapress
    PODER/MERCADO - Protesto contra a PEC 241 e a Reforma do Ensino propostas pelo Governo Federal, na Av. Paulista. 11/10/2016 - Foto - Marlene Bergamo/Folhapress - 017
    Protesto contra a PEC 241 na avenida Paulista, no centro de São Paulo

    Em torno de 77% da população não tem conhecimento do conteúdo e, principalmente, das consequências da proposta de emenda constitucional (PEC) 241, enviada por Temer ao Congresso Nacional, cujo objetivo é congelar os gastos públicos por 20 anos. Apesar desse desconhecimento e da massiva propaganda enganosa em defesa da PEC, tem sido crescente a resistência a essa proposta por diversos setores da sociedade.

    Tendo plena consciência de seus malefícios, sobretudo às políticas e aos programas sociais, o governo impõe urgência à matéria, o que é garantido por sua maioria parlamentar que tenta aprová-la antes que as pessoas tomem conhecimento da sua gravidade.

    A PEC é tão absurda que o próprio Temer afirmou que a mesma poderá ser revista pelo próximo governo, ou seja, daqui a dois, três ou quatro anos.

    Ora, se pode ser alterada em dois anos, qual é a razão para estabelecer uma medida fiscal na Constituição? Por que uma vigência de 20 anos? A quem querem mostrar serviço? Certamente não será ao povo e nem aos interesses nacionais.

    As declarações do senador Romero Jucá (PMDB-RR) dizendo que o país precisava de um governo não eleito para encaminhar as reformas e medidas impopulares e do deputado Marquezelli (PTB-SP) de que só deve fazer universidade quem pode pagar explicam a razão da PEC 241 e as entranhas desse novo projeto de país, que prioriza os interesses dos poderosos e dos mais ricos.

    E para deixar mais clara ainda a integral subserviência desse governo ao "deus mercado", a proposta não impõe qualquer limite aos gastos financeiros (rolagem, serviços e juros da dívida pública), que representam mais de 45% do orçamento da União. Ou seja, corta-se em saúde, educação, produção de alimentos, Bolsa Família, Prouni, cultura e segurança, para remunerar a elite rentista com os juros mais elevados do planeta.

    O debate com a sociedade, portanto, é imperativo. A pressa não é só sinônimo de irresponsabilidade e da falta de apreço à democracia, mas uma prova inconteste de quão nociva é essa proposta à nossa nação.

    O que propugnamos nada mais é do que um espaço para o debate. Permitir que a população seja esclarecida dos reais impactos dessa medida e fazer com que cada parlamentar assuma abertamente as suas posições perante a opinião pública.

    E que não tergiversem, não digam que não há outros caminhos para resolver a crise econômica do país. Há, sim! Temos alternativas imediatas como a redução da taxa de juros, a reforma tributária, o aumento do investimento público com uma política fiscal anticíclica e aperfeiçoamento dos instrumentos de fiscalização, controle e planejamento orçamentário.

    É farmacêutica, senadora pelo PCdoB do Amazonas e procuradora especial da mulher do Senado.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024