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    Vanessa Barbara

    O mundo em câmera lenta

    28/01/2013 03h00

    Fui cair no programa "A Supercâmera" (Time Warp) por acaso, durante uma madrugada particularmente enfadonha. A atração é exibida em diversos horários nos canais Discovery e consiste em mostrar eventos ordinários (uma gota d'água caindo, uma bailarina girando, um tiro de revólver) sob a perspectiva de uma câmera sensível de alta velocidade.

    Dessa forma, o espectador pode acompanhar --frame a frame-- como se comportam as diversas variáveis envolvidas no voo de um beija-flor, por exemplo. Parece sonífero, mas não é.

    Primeiro porque o narrador é irônico e vai pontuando as experiências com observações sarcásticas. (O dublador brasileiro, Valvênio Martins, é excelente.)

    A dupla de apresentadores é formada por um cientista do MIT, Jeff Lieberman, e um especialista em câmeras de alta velocidade, Matt Kearney. Assim como os "Caçadores de Mitos" ("Ilustrada", 17/12/2012), ambos sempre procuram terminar o trabalho com explosões.

    Em determinado episódio, eles forçam um taco de beisebol até quebrá-lo, o que demora um bocado. Em outro, decidem triturar coisas num liquidificador --começam com amendoins de chocolate e terminam com isqueiros, só para ver o aparelho pegar fogo. "Como ganhar de um liquidificador em chamas?", indaga o narrador, antes do segundo bloco. "Simples: malabarismo com motosserras."

    Uma das especialidades de "A Supercâmera" é filmar talentos incomuns, como o recordista mundial de arremesso de cartas de baralho, uma campeã de sinuca e um malabarista.

    Este começa com três pinos, passa para sete e depois para tochas. Então decide radicalizar. "Por sorte, a única coisa que nosso seguro cobre é desmembramento acidental por malabarismo com motosserras", observa o narrador.

    Num dos episódios mais curiosos, eles testam as leis de Newton com a ajuda de um praticante de "parkour" (corridas e saltos pelas paredes), revelando passo a passo como dissipar o impacto das acrobacias.

    O "gran finale" é quando Jeff e Matt resolvem dançar e pular corda numa piscina de maisena. As cenas em câmera lenta de ambos correndo sobre a superfície viscosa são impressionantes, com toda a tensão da substância semilíquida resistindo ao peso dos apresentadores feito matéria sólida --exceto quando Jeff perde o equilíbrio e afunda.

    "Todo mundo devia experimentar isso no quintal", comenta o narrador, invertendo a lógica do "não faça isso em casa".

    vanessa barbara

    Escreveu até julho de 2014

    Jornalista, cronista e tradutora, é colunista do "International New York Times''. É autora de "O Livro Amarelo do Terminal" (Ed. Cosac Naify, Prêmio Jabuti de Reportagem) e "Noites de Alface" (Ed. Alfaguara). É editora de "A Hortaliça" (www.hortifruti.org).

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