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    Vanessa Barbara - Vanessa Fernandes Correa

    O nome da rede

    18/08/2013 02h30

    No início de agosto, a prefeitura inaugurou um ponto de wi-fi gratuito na praça Dom José Gaspar, no centro da cidade. A rede, chamada "Wifi_livre", oferece uma conexão de internet de 512 kbps e faz parte do projeto Praças Digitais, a ser implementado em 120 espaços públicos até o fim de outubro.

    É uma boa notícia para os sem-sinal, aquela parcela da população que vaga pelas ruas procurando uma rede desprotegida para filar.

    Ilustração Catarina Bessell

    São munícipes que não podem pagar um plano de 3G e dependem da bondade de estranhos para acessar a internet do smartphone -ou da ingenuidade de quem escolhe "admin" como senha de segurança.

    A prática de sair por aí detectando sinais de rede em uma área tem nome: "wardriving", variação do método popularizado nos anos 1980 que consistia em discar números aleatórios de telefone até encontrar um modem ("wardialing").

    Acessar redes sem autorização é eticamente questionável e se chama "piggybacking" (termo para pegar carona nos ombros de alguém).

    Eu, de minha parte, pratiquei "warwalking" só por diversão. Fico imaginando o momento em que a pessoa batizou o sinal e, emocionado, lançou-o para o Universo.

    Minha rede preferida era a "RickyMartinForever", fornecida pelo morador anônimo de um prédio em Santa Cecília e acessada pelos pacientes da clínica de fisioterapia que eu costumava frequentar.

    Em Campos Elísios há redes com o nome "cutícula", "maritaca voadora" e "avante zóião". Em Diadema, o dono da "Patópolis" é vizinho da "Casa do Bozo". O largo do Arouche abriga as redes "podre" e "Rodolfo o GATO".

    Criativos são os residentes da Consolação: lá se encontram as redes "Not in Kansas anymore", "sou maravilhoso", "it's Britney bitch", "Playboy Mansion", "etdamaopreta", "nenê careca", "tigre cintilante" e "jesus rodrigo". No Centro, a ótima "homelete".

    Há cinco categorias de nomes: os de família ("Família Pessoa"), os de logradouros ("apto64"), os de pessoa física ou jurídica ("Casa do Croquete", "Silas"), os de máquinas (dlink, linksys, HP568 Desk) e os hostis ("Vai conectar na mãe", "Querusar?Paga!", "Conexão com Satanás" e "Vcnaotemmaisoquefazer").

    Na rua Dr. Vila Nova, temos "Datavenia", "Árvore", "Comuna" e "Comuna-1871". Na Major Sertório, "Capivara Hermafrodita", "Batcaverna" e "Raskonikov Uai Fai".

    A av. 9 de Julho conta com a curiosa "Release the Bacon", e, na Turiassu, o depressivo "foreveralone". Há um "Balzac" e um "Casanova", além de um "Batata" e um "Tadeuzão".

    Na rua das Palmeiras, o wi-fi do "mindigo". Em Santana, o "Balneário 1" e o "Balneário 2", além do misterioso "Oi querida procurando...", cujo final não pude distinguir, mas deve ser impublicável.

    vanessa barbara

    Escreveu até julho de 2014

    Jornalista, cronista e tradutora, é colunista do "International New York Times''. É autora de "O Livro Amarelo do Terminal" (Ed. Cosac Naify, Prêmio Jabuti de Reportagem) e "Noites de Alface" (Ed. Alfaguara). É editora de "A Hortaliça" (www.hortifruti.org).

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