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    Vanessa Barbara

    Rafting na Pompeia

    24/11/2013 02h30

    Este artigo dá prosseguimento a uma série sobre fitness nas grandes cidades, iniciada há duas semanas com um texto dedicado à ginástica das manifestações.

    O verão está chegando e, com ele, a temporada de esportes aquáticos.

    Como toda boa cidade turística, São Paulo oferece uma gama de opções para os amantes de práticas subaquáticas, como o snorkelling de enchentes e o mergulho livre com leptospirose. Cortada pelos rios Tietê e Pinheiros, que costumam transbordar nos períodos mais chuvosos, a cidade proporciona ao visitante o contato com espécies da fauna local, como a capivara, o jacaré, as garrafas PET e um ou outro cadáver.

    Mesmo para os paulistanos mais sedentários, rafting pode ser uma prática cotidiana, com obstáculos realmente letais e corredeiras que desembocam em apavorantes bueiros quebrados.

    Nas ladeiras mais íngremes de bairros como Perdizes e Pompeia, o morador é presenteado com generosas cachoeiras, embora o rapel ainda não seja um esporte tão popular.

    Ilustração Catarina Bessel

    Com tantas atrações e oportunidades à disposição, São Paulo deveria seguir o exemplo de cidades de aventura como Brotas e Queenstown, generalizando o acesso a equipamentos esportivos e profissionalizando a prática das atividades. Por meio da SP Turis, a prefeitura poderia facilitar a compra de galochas, botas, trajes de neoprene, máscaras de mergulho, cilindro de oxigênio e, por que não, pés de pato. Tais acessórios tornariam mais viável a vida na metrópole.

    Tementes à lei que tornou compulsório o uso do cinto de segurança nos automóveis, todos os cidadãos seriam obrigados a sair de casa com coletes salva-vidas, sob pena de multa. Para ir ao trabalho, canoas e catamarãs comporiam a nova frota do transporte público, sendo que os mais egoístas sairiam do estacionamento do prédio com seus próprios jet skis. Nos fins de semana, veríamos jovens indo para a balada a bordo de festivos banana boats.

    Além do inglês, as escolas ofereceriam aulas de natação, com ênfase em técnicas de "treading water" (manter-se parado com a cabeça fora da água, em posição vertical). E o ocasional alagamento do pátio no horário da educação física pode propiciar aos infantes a descoberta de novos esportes, como o polo aquático.

    Jamais me esquecerei do carioca que, em 2010, remou pelas ruas e entrevistou motoristas parados na enchente, a bordo de um bote salva-vidas. E do gaúcho que, na semana passada, foi fotografado fazendo "stand-up paddle" em cima de uma prancha de surfe, durante um alagamento em Porto Alegre.

    Mais uma vez, os donos de academia prometem reagir.

    vanessa barbara

    Escreveu até julho de 2014

    Jornalista, cronista e tradutora, é colunista do "International New York Times''. É autora de "O Livro Amarelo do Terminal" (Ed. Cosac Naify, Prêmio Jabuti de Reportagem) e "Noites de Alface" (Ed. Alfaguara). É editora de "A Hortaliça" (www.hortifruti.org).

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