• Colunistas

    Wednesday, 01-May-2024 05:06:22 -03
    Vinicius Mota

    Múmias do socialismo

    11/03/2013 03h30

    SÃO PAULO - Não é de hoje que déspotas da esquerda socialista terminam mumificados e exibidos ao público. Lênin, Stálin e Mao precederam Hugo Chávez nesse destino. Se o marxismo privilegiou na teoria os movimentos mecânicos e impessoais da história e das classes, na prática não dispensou os seus faraós.

    Antes de optar pela mumificação, os mandatários bolivarianos devem ter sopesado o fato de que Chávez não foi um ditador genocida, no que se diferencia de outros líderes socialistas cujos corpos foram preservados da decomposição. Prevaleceu a vontade de reforçar o mito, e com ele o "statu quo", ao menos até a eleição presidencial do mês que vem.

    Faz sentido a urgência. A utilidade política das múmias socialistas prescreve antes do preparado que as embalsama. Stálin de glicerina tornou-se logo um incômodo e foi enterrado. Menos de 40 anos após sua morte, a União Soviética desceu à cova.

    A China e o Vietnã só não seguiram o mesmo caminho porque, contrariando seus fundadores embalsamados, transformaram-se em ditaduras capitalistas. A pobreza e a degradação campeiam em Cuba e na Coreia do Norte, dois microexperimentos remanescentes.

    O chavismo na Venezuela tem a vantagem de não configurar-se como regime socialista. A economia venezuelana, antes e depois de Chávez, é basicamente a mesma. Extrai petróleo e o troca por tudo o que consome.

    Os sucessores do caudilho terão de bater-se com agruras típicas de uma economia monoexportadora, agravadas pelo surto de despesas eleitoreiras do ano passado. Prevê-se em 2013 uma forte redução no crescimento do PIB, para 2% ou menos, contra 5,6% em 2012. A fim de diminuir seu deficit, o governo desvalorizou a moeda, o que terá impacto na inflação e no abastecimento.

    Na urna de cristal, o cadáver de Chávez terá cada vez menos serventia para enfrentar o agastamento que esse quadro provocará.

    vinicius mota

    É secretário de Redação da Folha. Foi editor de Opinião (coordenador dos editoriais) e do caderno 'Mundo'.
    Escreve às segundas-feiras.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024