• Colunistas

    Saturday, 04-May-2024 06:41:01 -03
    Vinicius Mota

    Anedotário

    03/06/2013 03h00

    SÃO PAULO - "Ouvi que vai ter neve amanhã", diz a dona de casa. "Não vou entrar na fila por isso", retruca a vizinha. Após levar horas para obter sua ração, um homem parte furioso, dizendo que vai matar o líder Gorbatchov. Volta logo e frustrado: lá a fila estava ainda maior.

    Assim era o humor popular sob as ditaduras socialistas do leste europeu. Caviloso, sarcástico e às vezes masoquista. Servia como válvula de escape em regimes que reprimiam a informação e o contraditório. Rebatia, com a tinta da penúria cotidiana, a propaganda oficial laudatória.

    A presidente Dilma Rousseff exerce um estilo de governo que por vezes lembra o solipsismo dos secretários-gerais soviéticos. Obsessiva pelo controle da informação, distanciada do mundo sublunar da política congressual e partidária, desconfiada dos assessores e da própria sombra.

    Plano C de Lula para a sucessão de 2010 --depois de queimados os cartuchos de Dirceu e Palocci--, Dilma não tem base regional. Não se pode dizer de pronto onde fez carreira política. É típica representante da categoria que o filósofo Friedrich Nietzsche chamou de "nômades do Estado sem lar", ao referir-se aos burocratas das nações modernas.

    Rousseff é uma ideia instalada na cadeira presidencial. Na leitura complacente, uma ideia ingênua demais para sobrepujar as cobras criadas da política brasileira, em especial quando o vento da economia bate na proa.

    A governante solitária vê-se agora no centro de anedotas desfavoráveis. A obsessão pelo controle resvala no descontrole com as tentativas de pilotar até o avião presidencial. A compra urgente de um fogão para o Palácio da Alvorada enseja gracejos machistas. Virão mais casos reveladores da personalidade difícil, muitos brotando de sua camarilha.

    Eis a mudança: nem o círculo próximo à presidente segura mais as críticas a seu modo de conduzir. Elas começam a fluir sob a forma de maledicências e anedotas variadas.

    vinicius mota

    É secretário de Redação da Folha. Foi editor de Opinião (coordenador dos editoriais) e do caderno 'Mundo'.
    Escreve às segundas-feiras.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024