• Colunistas

    Saturday, 18-May-2024 05:43:12 -03
    Vinicius Mota

    Por uma cabeça

    17/02/2014 03h30

    SÃO PAULO - Para quem gosta de alimentar a competição entre brasileiros e argentinos, vai uma dica. Foi-se o tempo em que a renda per capita brasileira, medida em dólares, era uma pequena fração comparada à argentina.

    Em 1983, quando o vizinho do sul saiu da ditadura, o PIB por habitante no Brasil não chegava a um terço do argentino. Três décadas depois, estamos a cinco pontos percentuais da igualdade. Por uma cabeça, como diz o tango de Carlos Gardel.

    Se cotejamos o volume total das duas economias, o cavalo lusófono dispara na pista. Para cada US$ 100 produzidos no Brasil hoje, a Argentina faz apenas US$ 22 ""contra US$ 71 há 30 anos.

    O desempenho do Brasil no período foi apenas razoável. Foi a Argentina que afundou, e as explicações sobre esse desastre nacional convergem para a política.

    A redemocratização argentina passou ao largo da necessidade de regularizar, aprofundar e estabilizar as instituições de mercado. A moeda nacional foi rifada na gestão Menem (1989-1999), no plano para erradicar a inflação com dólares alheios.

    O modelo ruiu quando os dólares globais buscaram abrigo nos EUA no final da década de 1990. Na Argentina, isso produziu uma das mais severas recessões de que há registro. A deterioração financeira logo se tornou catarse política, que derrubou o presidente Fernando de la Rúa em 2001.

    O ciclo seguinte em nada inovou. Reascendeu a velha cepa populista argentina, que distribuiu fartos recursos públicos sob a forma de subsídios, controlou preços e afugentou investimentos.

    Esse grupo gozou de conforto no poder enquanto durou a exuberante arrancada chinesa da primeira década do século 21.

    A bonança chega ao fim sem que a Argentina tenha se modernizado. O peso afunda em descrédito, e a crise financeira está perto, a uma cabeça, de desaguar em convulsão política.

    vinicius mota

    É secretário de Redação da Folha. Foi editor de Opinião (coordenador dos editoriais) e do caderno 'Mundo'.
    Escreve às segundas-feiras.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024