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    Vinicius Mota

    Um país suave

    27/04/2015 02h00

    SÃO PAULO - Há mais de uma década se discute no Congresso regulamentar a modalidade de prestação de serviços entre empresas chamada de terceirização. Enquanto o debate legislativo emperrava, a cúpula da Justiça do Trabalho era aparelhada pela esquerda reconciliada com o varguismo e decidia a parada.

    Uma firma está proibida de contratar outra para desenvolver nem que seja parte de sua atividade principal. Num país de tradição liberal, esse dispositivo seria considerado interferência abusiva no domínio privado. Se os impostos são recolhidos e as regras trabalhistas, respeitadas, não cabe ao Estado meter-se no modo como uma empresa se relaciona com outras.

    Mas no Brasil a história é diferente. Gostamos de ser paternalistas, de sociologizar as relações jurídicas, de conceber atores cuja esfera de autonomia e de responsabilização é menor e precária, sujeitos à tutela do governo e das leis. Também gostamos, por outro lado, de afetar certa abertura para o mundo das mais dinâmicas práticas econômicas.

    Com frequência surgem ondas de modernização, como o debate reaceso a respeito da terceirização, que topam com o continente paternalista. Ou morrem no choque, desfecho rotineiro, ou transformam muito discretamente a paisagem.

    Não há na política nacional massa crítica para viabilizar alterações significativas no ambiente dos negócios e das relações econômicas. O PSDB não é um partido liberal, como demonstrou novamente nos trâmites da terceirização na Câmara. A parcela mais grossa do PMDB está onde sempre esteve, associada às estruturas do Estado grande e patrimonialista. Do PT, que sob Lula anulou toda sua diferença com o varguismo, nem se fale.

    O Brasil se move suavemente no rumo da modernização, como se já tivesse alcançado um grau adequado de desenvolvimento, riqueza e bem-estar.

    vinicius mota

    É secretário de Redação da Folha. Foi editor de Opinião (coordenador dos editoriais) e do caderno 'Mundo'.
    Escreve às segundas-feiras.

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