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    Vinicius Mota

    Uma corrida perigosa

    28/09/2015 02h00

    SÃO PAULO - Uma arte ao mesmo tempo poderosa e difícil de manejar é a comunicação entre o Banco Central e seu público, os agentes econômicos. Basta uma palavra mal colocada, ou dita no tempo errado, para macular meses de trabalho.

    O contrário também vale. O recado tempestivo e bem dado poupa esforço e recursos. Na semana passada, Alexandre Tombini, chefe do BC, agarrou uma dessas oportunidades.

    Quando o dólar explodia a R$ 4,25, Tombini surgiu para dizer que o banco poderia valer-se de sua caixa de moeda forte sonante, de US$ 370 bilhões, para impedir a disparada. Deu no mínimo sorte, pois o mergulho do real foi revertido, mas provavelmente também acertou o alvo.

    A vitória momentânea, no entanto, poderá tornar-se um tormento logo ali na frente. Parte dos agentes das finanças ficou assanhada para saber se o BC diz a verdade. Na próxima empinada violenta do dólar, o banco talvez não possa limitar-se a apenas falar do que é capaz.

    Se não vender verdinhas, desmoraliza-se. Se as vender, dará a largada para uma corrida perigosa, embora inevitável caso persista a falta de ação para deter a degradação fiscal.

    Está em curso um programa de assunção, pelo governo federal, do risco de empresas endividadas em dólares, que já comprometeu cerca de US$ 100 bilhões em contratos nos mercados futuros. O uso das reservas aceleraria esse processo que, a prolongar-se, terminaria com o setor público assumindo o risco de calote externo da economia brasileira.

    Seria a volta de mais um fantasma que Lula, em seu tempo de Napoleão dos pobres, comemorou ter espantado. Logo à frente estaria satanás, o Fundo Monetário Internacional.

    Teremos deixado o jardim da infância dos povos a ponto de tomarmos agora, nós mesmos, as medidas que nos livrem da desgraça? Ou vamos precisar ser colocados mais uma vez de joelhos diante de alguém que, de fora, nos obrigue a tomar jeito?

    vinicius mota

    É secretário de Redação da Folha. Foi editor de Opinião (coordenador dos editoriais) e do caderno 'Mundo'.
    Escreve às segundas-feiras.

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