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    Vinicius Mota

    A carnificina da vez

    16/11/2015 02h00

    SÃO PAULO - Nos quase quatro anos compreendidos entre janeiro de 2012 e setembro de 2015, 187 pessoas foram assassinadas em Paris. Bastaram três horas na última sexta-feira para oito facínoras islamitas elevarem em 70% aquela cifra.

    Homicídios se reduzem no mundo rico. Ao que consta pouco dependentes do ciclo econômico e das características culturais de cada população, as taxas de incidência desse crime declinam, seja na mais conflituosa e armada sociedade dos Estados Unidos, seja na própria França.

    O limite da queda parece próximo de ser atingido na Escandinávia. A Suécia registrou 87 assassinatos em 2014, menos de um para cada grupo de 100 mil habitantes. As sociedades contemporâneas talvez encontrem ao redor dessa marca algo como sua "taxa natural" de homicídios.

    Assassinatos, de todo modo, tornam-se ocorrência cada vez menos frequente, e em alguns casos quase exótica, nos países desenvolvidos. Quando o grau de tolerância à violação do corpo tende a zero, o índice civilizatório arranha o máximo.

    O jihadismo espetaculoso concluiu que trazer de volta os banhos de sangue para centros ultracivilizados como Paris, Nova York, Londres e Madri é proveitoso para sua causa. O contraste entre tais massacres esporádicos e um ambiente de proteção crescente à autonomia do indivíduo desperta nos terroristas a esperança de causar um choque térmico capaz de implodir o edifício cultural do Ocidente.

    É um pensamento estúpido, que leva a ações estúpidas. Há quase 15 anos celerados suicidas praticam, em nome de sua religião, carnificinas periódicas em grandes cidades ocidentais. Não lograram alterar nem sequer em um grau a marcha secular civilizatória dessas sociedades.

    Ajudaram, na verdade, a fortalecer nesses países a convicção de que alguns adversários do modo de vida ocidental não são dignos de diálogo nem de compreensão.

    vinicius mota

    É secretário de Redação da Folha. Foi editor de Opinião (coordenador dos editoriais) e do caderno 'Mundo'.
    Escreve às segundas-feiras.

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