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    Vinicius Mota

    Uma mãe para os ricos

    04/01/2016 02h00

    SÃO PAULO - O Tesouro Nacional está tomando dinheiro na praça com a promessa firme de pagar juros fabulosos, e por períodos longos, aos emprestadores.

    Que tal quase duas décadas com remuneração de 6% ao ano acima da inflação, já abatidos impostos e taxas? O patrimônio real vai triplicar. Quem emprestar R$ 1 milhão ao governo terá de volta, ao final do período, seu dinheiro corrigido pelo IPCA e mais R$ 100 mil por ano, em média.

    O Tesouro de Mamãe Rousseff fecha esse negócio da China, ou do Brasil, todos os dias. Não o faz por boniteza, mas por necessidade, derivada da voraz expansão estatal nos últimos seis anos.

    Mamãe, entretanto, é apenas intermediária passageira nessa relação perpétua entre devedores e credores. Os empréstimos constituem obrigações intertemporais do mais amplo conjunto da população, que paga os impostos, com uma parcela menor e mais rica de poupadores.

    Se em menos de 20 anos o patrimônio de felizardos credores da dívida pública poderá triplicar, a produção nacional vai levar quase 40 anos para multiplicar-se por três, sob a hipótese bastante otimista de que o PIB cresça 3% na média anual.

    Não é difícil antever os efeitos sociais, econômicos e políticos desse descompasso: concentração da renda, freio na produtividade, exacerbação do conflito tributário e orçamentário, além da deterioração dos serviços prestados pelo governo.

    A política da gastança produziu uma sociedade tendencialmente desigual e belicosa. A gestão Rousseff, mais isolada após a queda de Joaquim Levy, dificilmente mudará o curso do transatlântico. A opção remanescente é reduzir a marcha e retardar ao máximo o momento do impacto.

    Resta torcer pelo bônus pedagógico. Talvez o trauma fique gravado na memória das instituições e dos cidadãos. Gastar com prudência o dinheiro da sociedade é um princípio progressista de governo.

    vinicius.mota@grupofolha.com.br

    vinicius mota

    É secretário de Redação da Folha. Foi editor de Opinião (coordenador dos editoriais) e do caderno 'Mundo'.
    Escreve às segundas-feiras.

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