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    Vinicius Mota

    Inês é velha

    11/07/2016 02h00

    SÃO PAULO - A economia brasileira inicia a partir de agora uma lenta recuperação daquela que terá sido a pior derrocada deste ciclo democrático. O volume da produção, se confirmadas as hipóteses de analistas reputados, vai retomar apenas em 2019 os níveis verificados em 2014.

    O atraso é ainda maior se a renda per capita for levada em conta. O poder de compra médio que o brasileiro possuía em 2013 só será recobrado em 2021, oito anos depois. Perde-se o que se perdeu, mas também o que se deixou de ganhar.

    O Brasil desperdiça os últimos raios de luz de sua janela demográfica, o período em que, em razão da queda ainda relativamente recente da natalidade, o conjunto das pessoas em idade de trabalhar se expande mais depressa que a população.

    Com menos crianças para cuidar e ainda poucos aposentados para sustentar, um país deveria acelerar o crescimento da produção por habitante. Essa expectativa foi periodicamente frustrada no Brasil nos últimos 35 anos. Novamente agora.

    Mas agora Inês é velha. No ano 2000, menos de 8 em cada 100 brasileiros tinham 60 anos ou mais de idade. Hoje essa proporção já se aproxima de 12. Em 2030, para cada centena de habitantes, 19 serão pelo menos sexagenários.

    O salto terá alcançado quase 150% em 30 anos, uma das mais rápidas metamorfoses demográficas da história das nações. A marcha do envelhecimento prosseguirá até a metade do século, quando 30 em cada 100 terão 60 anos ou mais.

    O que acontece no Brasil, observando-se a perspectiva das décadas por vir, é uma pequena tragédia. O país jovem é apenas remediado e pouco produtivo. A despeito disso, gasta 10% do PIB para sustentar seus aposentados e pensionistas.

    O país maduro ali na esquina, se não realizar um pequeno milagre na produtividade, vai se espatifar contra o muro da falência civil. Inês corre risco de morrer.

    vinicius mota

    É secretário de Redação da Folha. Foi editor de Opinião (coordenador dos editoriais) e do caderno 'Mundo'.
    Escreve às segundas-feiras.

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