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    Vinicius Mota

    Estagnação prolongada ameaça nações ricas

    15/08/2016 02h00

    Reuters
    Como a guinada nos juros dos EUA afeta o Brasil? A decisão do FED (Federal Reserve, o Banco Central americano) de elevar os juros do país em 0,25 ponto percentual - para uma taxa entre 0,25% e 0,5% - marca uma esperada guinada na política monetária dos Estados Unidos que deve reverberar em todo o globo, inclusive no Brasil.
    A decisão do FED de elevar os juros do país deve reverberar em todo o globo, inclusive no Brasil

    SÃO PAULO - Quanto mais um povo investe na expansão do parque produtivo e de serviços, quanto mais gasta na construção de casas, estradas, ferrovias e aeroportos, menor tende a ser o desemprego. Com menos trabalhadores disponíveis, espera-se que os salários subam e aticem a inflação e as taxas de juros.

    O resultado se inverte quando a população e as empresas preferem poupar a investir. Esse comportamento deprime o mercado de trabalho, puxa os preços de bens e serviços para baixo e derruba os juros.

    Deveria haver teoricamente uma linha de equilíbrio entre poupança e investimento, refletida numa certa taxa de juros, sobre a qual a economia pudesse crescer com desemprego e inflação nos mínimos possíveis.

    Um problema aparece quando essa taxa de juros que equaliza o jogo cai tanto que não consegue mais ser alcançada pela ação reparadora do Banco Central. Ainda não se conhece um modo eficaz de fixar abaixo de zero os juros de curto prazo.

    As pessoas tenderiam a estocar notas de dinheiro no colchão, pois ali o poder de compra seria protegido da desvalorização. Boa parte da intermediação bancária perderia sentido, o que empurraria instituições gigantescas para a beira do abismo.

    Esse dilema acossa e desafia os países desenvolvidos. Sete anos após a crise global, uma aluvião de dinheiro barato evitou o colapso, mas não reanimou a propensão para investir. Inflação e juros ao rés do chão sugerem mais uma década à frente com ritmo frustrante de atividade.

    A "estagnação secular", armadilha em que se enreda o Japão provavelmente desde os anos 1990, estaria atingindo as demais nações ricas. Se o diagnóstico está correto, livrar-se dessas tramas dependeria mais do gasto direto e indireto dos governos que das ações dos bancos centrais.

    O debate vale para o mundo rico. A depressão brasileira tem contornos muito diversos e foi produzida pelo descomedimento do gasto público.

    vinicius mota

    É secretário de Redação da Folha. Foi editor de Opinião (coordenador dos editoriais) e do caderno 'Mundo'.
    Escreve às segundas-feiras.

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