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    Vinicius Mota

    Em São Paulo, saiu um poste, entra outro

    03/10/2016 02h00

    Avener Prado/Folhapress
    O empresário João Doria (PSDB), prefeito eleito em São Paulo, comemora a vitória com Alckmin
    O empresário João Doria (PSDB), prefeito eleito em São Paulo, comemora a vitória com Alckmin
    Fábio Braga-20.out.2012/Folhapress
    Haddad entre Dilma e Lula durante o comício realizado no ginásio da Portuguesa, em São Paulo
    Haddad entre Dilma e Lula, em 2012, durante comício realizado em São Paulo

    SÃO PAULO - Pela terceira vez desde a redemocratização, os eleitores de São Paulo colocaram na prefeitura um candidato sacado da cartola de um oligarca partidário.

    A moda começou em 1996 com Celso Pitta, inventado por Paulo Maluf, reincidiu em 2012 com Fernando Haddad, imposto ao PT por Lula da Silva. Repete-se agora com João Doria, concebido na proveta do tucano Geraldo Alckmin.

    A predileção pelos postes, como são apelidados esses afilhados debutantes em eleições, alterna-se com a preferência oposta. Ao longo dos últimos 31 anos, três políticos tarimbados —Jânio Quadros (1985), Maluf (1992) e José Serra (2004)— também venceram a disputa paulistana.

    Doria tem uma diferença em relação a Pitta e Haddad, que furaram a fila partidária beneficiados não apenas pelo mandonismo, mas também pela popularidade elevada dos seus patronos à época da indicação.

    O Alckmin que movimentou a máquina estadual para assegurar a nomeação e aumentar os recursos eleitorais de seu protegido não é um governador muito bem avaliado pela população. Não se aplica com exatidão a este caso a máxima segundo a qual um político altamente popular elege até um poste por ele indicado.

    O triunfo de João Doria pareceu nutrir-se bem mais fortemente da degringolada na reputação dos políticos, em geral, e dos vinculados ao PT paulistano, em particular.

    "Não sou político, sou gestor", não se cansou de repetir o novo poste, candidato patrocinado em mais de um sentido pelo governador Alckmin, que sai fortalecido para suas pretensões presidenciais em 2018.

    É uma pena o que os próprios políticos fizeram da imagem da profissão. É uma pena a submissão dos dois principais partidos à vontade de velhos chefões. Quando o cacique pode muito e por muito tempo, surge o poste. Quando o sistema projeta descrédito, viceja a ilusão da resposta fácil que vem de fora da política.

    vinicius mota

    É secretário de Redação da Folha. Foi editor de Opinião (coordenador dos editoriais) e do caderno 'Mundo'.
    Escreve às segundas-feiras.

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