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    Vinicius Mota

    Na economia, agitação nem sempre gera mais produção

    26/12/2016 02h00

    SÃO PAULO - Nos 21 anos finais do século passado, a economia peruana oscilou entre a fossa da depressão e o pico da euforia. Mergulhos, como a queda de 13,4% no PIB em 1989, conviveram com arrancadas estupendas, de até 12,3% (1994).

    O resultado líquido de tanta variação foi frustrante. Na média, a produção cresceu apenas 1,7% ao ano naquele período. O Peru encerrou o século mais pobre, quando comparada a sua renda por habitante à dos Estados Unidos, do que estava em 1980.

    O contraste com a trajetória do país andino nos 16 anos iniciais deste século não poderia ser maior. O PIB jamais atingiu dois dígitos de alta, nem tampouco descambou para território negativo. A oscilação da atividade, medida pelo que os estatísticos chamam de desvio-padrão, reduziu-se a pouco mais de um terço do que havia sido nos anos 1980 e 1990.

    O oposto ocorreu com o ritmo de alta da atividade produtiva, cuja média anual triplicou. A renda dos peruanos, como proporção da obtida pelos norte-americanos, recuperou o terreno no final do século 20 perdido e se aproxima depressa da brasileira, estagnada há 30 anos.

    As economias de Peru e Chile, que antes exibiam gradiente de variação superior ao do Brasil, passaram a oscilar bem menos que a brasileira. Com a Colômbia, o trio que escapou à voga "bolivariana" e seguiu a receita "neoliberal" ora progride na comparação com os primos ricos do norte.

    O experimento alternativo, liderado pela Venezuela e pela Argentina, conseguiu piorar, ao longo dos últimos 16 anos, os já espantosos indicadores de volatilidade do final do século 20. Venezuelanos empobrecem há quase 40 anos. O declínio secular argentino não foi revertido.

    A energia das revoluções, dos voluntarismos, das mudanças bruscas nas regras do jogo e de outros solavancos políticos talvez produza tipicamente dissipação. O desenvolvimento, mostra a história econômica, parece mais associado à moderação.

    vinicius mota

    É secretário de Redação da Folha. Foi editor de Opinião (coordenador dos editoriais) e do caderno 'Mundo'.
    Escreve às segundas-feiras.

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