Alex Brandon - 28.jan.2016/Associated Press | ||
O presidente dos EUA, Donald Trump, fala pelo telefone com o primeiro-ministro da Austrália |
-
-
Colunistas
Wednesday, 01-May-2024 22:15:10 -03Vinicius Mota
Intimidação e bravata
06/02/2017 02h00
SÃO PAULO - Os relatos verossímeis, embora não validados pelas partes, das primeiras altercações do presidente Trump com líderes de nações aliadas me estimularam a reler dois trechos do magnífico "Ascensão e Queda do Terceiro Reich", do jornalista americano William Shirer.
Em 14 de fevereiro de 1938, o premiê austríaco, Kurt Schuschnigg, foi recebido por Hitler na residência alpina de Berchtesgaden, na Baviera. Tentou mencionar a paisagem nevada que se via da janela, mas foi interrompido pelo ditador: "Não estamos aqui para falar da bela vista".
"A história toda da Áustria é um ato ininterrupto de alta traição", emendou o líder nazista. O objetivo era arrancar a submissão do país vizinho e para isso ameaças mais palpáveis foram expostas: "Eu tenho apenas que dar uma ordem, e numa só noite todos os seus ridículos mecanismos de defesa serão feitos em pedaços", disse Hitler, segundo as memórias de Schuschnigg.
Horas depois o ditador apresentou ao líder austríaco um documento com os termos da capitulação: "Não vou mudar uma vírgula. Ou você assina e cumpre minhas demandas em três dias ou ordenarei a marcha sobre a Áustria". Schuschnigg assinou o papel. A anexação da Áustria ocorreria quatro semanas mais tarde.
Um ano se passou, e chegou a vez de o presidente da Tchecoslováquia, o envelhecido Emil Hácha, humilhar-se perante o führer em Berlim. As tropas alemãs estavam a horas de aniquilar o que restava do país.
Era assinar a rendição, documento cínico que retratava a intervenção nazista como resposta a um pedido tcheco, ou testemunhar a decolagem de centenas de bombardeiros ao amanhecer. Hácha chegou a desmaiar em plena Chancelaria alemã e foi socorrido pelas célebres injeções de Theodor Morell, médico de Hitler.
Fazer diplomacia na base da intimidação funciona quando os militares estão prontos para agir. Do contrário, é apenas bravata.
É secretário de Redação da Folha. Foi editor de Opinião (coordenador dos editoriais) e do caderno 'Mundo'.
Escreve às segundas-feiras.Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br
Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.brPublicidade -