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    Vinicius Mota

    Juízes e promotores vendem ilusões na política

    20/03/2017 02h00

    Renato Costa/FramePhoto/Folhapress
    O procurador da República, coordenador da Força Tarefa do Ministério Público Federal na Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol, durante Comissão Geral da Câmara dos Deputados para debater o projeto de lei que estabelece medidas contra a corrupção e demais crimes contra o patrimônio público e combate o enriquecimento ilícito de agentes públicos.
    Procurador Deltan Dallagnol, da Lava Jato, falou na Câmara dos Deputados sobre projeto anticorrupção

    SÃO PAULO - Mudanças abruptas nas regras organizadoras do jogo social, econômico e político raramente ocorrem nas nações modernas, o que tem um aspecto positivo na democracia. A evidência histórica relaciona os programas demiúrgicos à violência, à restrição das liberdades e ao empobrecimento.

    Seria, portanto, ao mesmo tempo ingênuo e perigoso acreditar em teorias difundidas no Brasil, como a de que o espírito por ofício inquisidor de operadores da Lava Jato, associado a reformas radicais nas regras eleitorais, poderia purificar a política.

    Como se houvesse uma geração de jovens impolutos pronta a substituir a velha guarda oferecida em holocausto em nome do combate à corrupção. Como se o conjunto de estímulos eleitorais às boas práticas na política fosse derivado de ciência incontroversa, descolada do contexto.

    Procuradores e juízes, no âmbito de investigações como a Lava Jato, exercem notável impulso para a melhoria do ambiente eleitoral. Seu trabalho tem ajudado a elevar o custo de delinquir na política, avaliado pela probabilidade de punição.

    Quando, porém, aderem ao lobby político, desbordando de sua missão especializada de investigar e julgar, esses agentes do direito logo começam a vender ilusões. Sua visão de mundo, treinada na dualidade mecânica do litígio judicial, traduz-se em má teoria do Estado. Abunda o maniqueísmo nas imagens de batalhas definitivas entre o certo e o errado.

    A política numa democracia complexa como a brasileira caminha em marcha lenta, com concessões marginais a este ou àquele interesse. Como a nação aspira à eternidade, um pedaço do que foi perdido hoje sempre poderá ser reposto. Vitórias e derrotas são tipicamente parciais.

    O que importa para o sucesso ou o fracasso do país são o sinal e o ângulo dessa trajetória na sucessão das décadas. Nenhum indivíduo ou grupo singular detém grande poder de influenciar a aventura coletiva.

    vinicius mota

    É secretário de Redação da Folha. Foi editor de Opinião (coordenador dos editoriais) e do caderno 'Mundo'.
    Escreve às segundas-feiras.

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