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    Vinicius Mota

    Reação a ataques prova que medo é mau conselheiro

    06/11/2017 02h00

    Chang W. Lee - 31.out.2017/The New York Times
    A polícia de Nova York no local do atentado que matou oito pessoas no último dia 31
    A polícia de Nova York no local do atentado que matou oito pessoas no último dia 31

    Quantas pessoas o saudita Osama bin Laden, com seu pelotão de suicidas alucinados, assassinou no dia 11 de setembro de 2001? Segundo as cifras oficiais, 2.958. Na realidade, foram mais.

    O medo de viajar de avião, que se espalhou depois da catástrofe, levou muitas pessoas a optar por longos deslocamentos de automóvel, uma alternativa de maior letalidade.

    O psicólogo alemão Gerd Gigerenzer estimou esse efeito para os três meses que se seguiram aos ataques e chegou a algo como 350 mortes que não teriam ocorrido nos EUA caso os hábitos dos viajantes tivessem se mantido. O número supera a cifra total de 266 vítimas nos quatro aviões destruídos pelos terroristas.

    Nos anos 1980, o americano Paul Slovic confirmou a percepção geral de que as pessoas evitam situações em que muitos podem morrer num mesmo local e num mesmo momento. Dispõem-se a tomar riscos bem maiores quando as fatalidades estão dispersas no tempo e no espaço.

    Essa dificuldade inata do ser humano de lidar com a abstração das probabilidades cria um enrosco para as políticas públicas que tem largas e danosas consequências. A quantidade de recursos financeiros que o temor descolado das taxas de risco carreia para as rubricas de segurança fará falta na saúde, na educação, na inovação, na infraestrutura e mesmo na prevenção das fatalidades difusas que são subestimadas.

    A onda do terrorismo atropelador de pessoas, agora em Manhattan, não só afugenta turistas. Chancela, movida a pânico vários decibéis acima do risco real, políticas de restrição a imigrantes que repercutirão no bem-estar material das nações e na tendência mundial ao belicismo e à intolerância nas próximas décadas.

    A cloaca máxima das redes sociais potencializa as ondas de medo e as reações exageradas das autoridades. Sangue frio e foco nas evidências é o que os governantes responsáveis mais deveriam buscar nessa quadra.

    vinicius mota

    É secretário de Redação da Folha. Foi editor de Opinião (coordenador dos editoriais) e do caderno 'Mundo'.
    Escreve às segundas-feiras.

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