• Colunistas

    Sunday, 28-Apr-2024 06:56:14 -03
    Vinicius Mota

    Democracia dispensa tantos superpoderosos para funcionar bem

    27/11/2017 02h00

    Nelson Jr./SCO/STF
    Sessão do STF, no último dia 23, em que foi discutido o chamado foro privilegiado
    Sessão no Supremo Tribunal Federal, no último dia 23, em que foi discutido o chamado foro privilegiado

    São Paulo - O ciclo democrático iniciado em 1985 no Brasil transitou para uma forma dispendiosa de "equilibrar" as forças que disputam poder, riqueza e status.

    Do presidente da República se fez dono da agenda parlamentar e do Orçamento, capaz de vetar no todo ou em parte projetos aprovados e de legislar de antemão. Foi proclamado senhor da dívida pública, dos vastos créditos estatais e dos contratos de empresas da União onipresentes.

    Contra esse imperador de faixa, o Congresso se fortaleceu. Descobriu logo o poder de destronar o chefão. A fragmentação partidária compôs a equação: para o presidente, era trazer a maioria parlamentar para dentro da máquina federal ou correr os riscos da paralisia e da degola.

    O Judiciário seguiu a trilha. Na cúpula, agigantaram-se o colegiado do Supremo Tribunal Federal e cada um dos 11 ministros. Na base, juízes desenvolveram meios de atenuar o hipergarantismo que oferecia proteção extra aos poderosos.

    A chamada geral à hipertrofia foi atendida nos órgãos de controle. Não se veem paralelos do grau de autonomia obtido no Brasil por membros singulares do Ministério Público. O Tribunal de Contas da União paira como espada sobre o pescoço dos burocratas que tomam decisões.

    Por essa via hiperbólica, pode-se até argumentar que foi atingido certo equilíbrio institucional, mas a preço salgado em termos de dissipação de energia. O bem-estar material da sociedade dificilmente poderá prosperar nos próximos anos sujeito a tamanho custo de transação.

    O provável fim do foro especial para quase todas as autoridades, a filtragem dos excessos dos órgãos de controle e a diminuição do poderio econômico do Executivo federal parecem sinais preliminares de combate às causas do gigantismo.

    Se cada titã for um pouco encolhido, chega-se à estabilidade institucional da democracia com menor queima de recursos.

    vinicius mota

    É secretário de Redação da Folha. Foi editor de Opinião (coordenador dos editoriais) e do caderno 'Mundo'.
    Escreve às segundas-feiras.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024