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    Vinicius Torres Freire

    Uma primavera das greves?

    04/10/2013 03h00

    O COMÉRCIO ESTÁ preocupado com a greve dos bancários, o bastante para apelar que a Febraban, a federação dos bancos, chegue logo um acordo com os grevistas. A Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) enviou ontem nota oficial aos bancos.

    O comércio de cidades pequenas, em especial as mais pobres, sofre com a falta de dinheiro vivo. Além disso, a CNDL ressalta que a economia está em "situação delicada".

    A greve dos bancários de 2012 durou dez dias. Os trabalhadores levaram aumento de 7,5%, acima da inflação de 2011 (6,5%, pelo IPCA) e da inflação acumulada até a data base dos bancários (5,2%).

    A greve atual completa 16 dias hoje (em 2012, 79,5% das greves no Brasil duraram menos de 15 dias). Os bancos oferecem reajuste real zero.

    Uma greve de bancários mais acirrada, o que quase todo mundo enxerga, e a visão frequente de conflitos de rua com a política, como os dos professores do Rio, entre outras evidências anedóticas, podem passar a impressão que há mais paralisações.

    Não existe balanço nacional unificado além de 2012, feito pelo Dieese, a instituição que presta regularmente esse serviço. Em conversas com centrais sindicais, a gente pode ouvir coisas como "a coisa está ficando mais quente" e só. Quando existem, as estatísticas de greves são setoriais.

    Mas pode ter fundamento a impressão de "calor" de alguns sindicalistas. O balanço das greves do Dieese mostrou que 2012 teve o maior número de greves e de horas paradas desde o longínquo 1996. O número de greves cresceu 58%; o de horas paradas, 37%. Houve mais greves no setor privado que no público.

    O número de greves cai das 1.228 em 1996 (segundo ano de FHC) para 631 em 1997, vai minguando e fica em torno de 300 por ano entre 2002 e 2008, quando volta a crescer. Desde 2004, o mercado de trabalho melhorou: salários e formalização crescentes, desemprego em queda. O rendimento médio continuou a subir após 2008. Mesmo no ano pífio de 2012, a renda do trabalho cresceu 5,8%. Não é fácil associar dureza econômica e greves.

    Nem toda greve se bate por reajustes, sempre a maior reivindicação (41% dos motivos), mas também por alimentação, plano de carreira, salários atrasados, condições de trabalho, assistência médica (entre 27% e 12% dos motivos).

    Também é muito difícil colocar no mesmo balaio greves de trabalhadores em condições tão díspares quanto os precários que constroem usinas hidrelétricas em Rondônia, bancários e professores municipais, por exemplo. Enfim, melhorias de renda não implicam boas condições "absolutas" de vida ou trabalho.

    Isto posto, reitere-se que o número de greves cresceu num período de baixa inédita da taxa de desemprego. Deu um pulo em 2012, quando o aumento real das categorias organizadas foi o mais forte desde 2008

    (talvez pelo aumento do número de greves, 75% delas vitoriosas?).
    O primeiro semestre de 2013 foi o de reajustes mais fracos desde 2008. 2013 é o terceiro ano de crescimento econômico fraco, inflação chata de 6% e produtividade que mal se move. Pode ser que as empresas estejam endurecendo, num ambiente em que o poder de barganha dos trabalhadores ainda seja razoável (desemprego baixo).

    vinit@uol.com.br

    vinicius torres freire

    Está na Folha desde 1991.
    Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.

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