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    Vinicius Torres Freire

    Dilma se perde na cidade grande

    13/10/2013 02h00

    Dilma Rousseff está com problemas sérios com os brasileiros "mais ricos", que moram no Sudeste, nas capitais ou nas regiões metropolitanas. "Mais ricos", entenda-se, são as famílias que ganham mais de dez salários mínimos, o que não é riqueza, mas é renda de pouca gente.

    É o que se depreende da pesquisa Datafolha publicada ontem. Lá se vê também que Marina Silva ora causa problemas sérios para a candidata Dilma Rousseff.

    Candidata sem-querer-querendo, Marina já dá de lavada em Dilma Rousseff entre os eleitores de famílias "mais ricas" (aquelas com mais de dez salários de renda). Empata com a presidente entre o eleitorado de famílias com renda de dois a dez salários ("classe C" e "nova classe média", segundo o clichê). Empata ainda nas capitais e cidades com mais de 200 mil habitantes.

    Desde julho, melhorou o humor com a presidente, mas não muito. Por ora, parece que Dilma caiu de categoria: dos 60% de nota "ótimo/bom" em que esteve de 2012 a junho deste ano para algo em torno de 35% no trimestre recente.

    O pessimismo com a economia, embora não muito pessimista, é o maior desde 2007, com exceção do começo do ano da recessãozinha de 2009. "Não muito pessimista" quer dizer que ainda 47% dos brasileiros acham que sua situação econômica vai melhorar, ante uma média de 58% entre 2007 e os dias de junho que antecederam os protestos do "despertar do gigante", ora adormecido, mas com sono intranquilo.

    Entre os "mais ricos", Dilma despencou do pico de 67% de "ótimo/bom" em março para 30%. No caso dos "mais pobres" (menos de dois salários), o tombo foi menor, mas ainda o foi: de 67% para 44%.

    Tudo isso posto, Dilma ainda lidera a pesquisa de votos para presidente no primeiro turno. Tira a diferença, como é fácil deduzir, entre a grande massa mais pobre e moradora das cidades menores do interior. Não é uma situação muito diferente daquela das eleições de Lula 2 e dela própria.

    Por ora Dilma vence Marina no segundo turno por pequena margem, 47% a 41%, dando de lavada em Eduardo Campos (PSB), Aécio Neves (PSDB) e José Serra (PSDB). Mas Dilma e Marina estão empatadas no Sudeste, no Sul e no Norte-Centro-Oeste. Dilma tira a diferença, bidu, no Nordeste, terra do pernambucano Eduardo Campos. Marina já bate Dilma nas capitais.

    Divertido ou francamente estranho é que Marina Silva ainda padece do devir da personalidade candidatícia, é candidata deixando de ser, ou sabe-se lá qual a linguagem marinista adequada para falar da situação. Como o PSB fará uma pré-campanha para dois candidatos, Marina e Eduardo Campos?

    Sim, é cedo, Marina ainda deve passar pelo processo de malhação dos candidatos, mesmo candidatos em potência. Vai apanhar do PT e cia., será escarafunchada pelos jornais, será sabatinada sobre ideias, "competência" e "experiência" etc. Mas Campos também o será.

    Decerto todas as marquetices ainda estão por fazer, decerto o público em geral ainda não está ligando muito para eleições. Nem tudo é vaguidade e vaidade, porém. O atual desgaste de Dilma não parece aleatório: tem problemas sistemáticos de prestígio em cidades maiores, com gente com mais renda, lá onde perde ou empata com Marina.

    vinicius torres freire

    Está na Folha desde 1991.
    Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.

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