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    Vinicius Torres Freire

    Os erros de 2014

    07/01/2014 03h00

    Saiu ontem a primeira safra de previsões dos economistas brasileiros para 2014, a centena de estimativas profissionais recolhidas semanalmente pelo Banco Central e publicadas no Boletim Focus.

    O que de menos incerto se pode dizer sobre esse conjunto de estimativas é: 1) É muito improvável que estejam certas, mas a vida é assim, até porque estimativas e expectativas influenciam a realidade; 2) 2014 talvez venha a ser o primeiro dos anos Dilma Rousseff em que a presidente possa acusar os economistas de serem pessimistas (se tivermos sorte).

    Nos três anos Dilma, os economistas em geral acreditavam que o país cresceria muito mais do que de fato cresceu, "opinião otimista" que foi mantida mesmo passados dois terços de cada ano. A inflação do IPCA, a "oficial", também seria menor, no cálculo dos economistas do Focus, os "economistas do mercado".

    Qualquer que seja a opinião que se tenha sobre economistas e suas previsões, convém notar que, ainda que as estimativas deles fossem "pessimistas", é ridícula a ideia de que eles tivessem organizado um conluio de pirraça para avacalhar a opinião que se faz da política econômica.

    De resto, os economistas que têm a ingrata tarefa de calcular projeções não estão brincando de bolão. O emprego deles e estratégias de empresas e instituições financeiras dependem dessas contas.

    De qualquer modo, enfim, repita-se que não houve "pessimismo" nas previsões do triênio dilmiano.

    Aliás, como já foi notado em estudos sobre o assunto, as expectativas dos economistas brasileiros sobre inflação têm sido sistematicamente otimistas, o que é divertido, pois nas crenças teóricas de alguns deles esse tipo de coisa não seria possível (isto é, agentes econômicos que erram sistematicamente).

    No Focus publicado ontem, prevê-se que a economia, o PIB, crescerá 1,95% em 2014 (provavelmente, pois, menos que em 2013). A inflação seria um tico maior, 5,97% (ante algo em torno de 5,8% em 2013).

    Mas um balanço das previsões reunidas no Focus (desde 2001) mostra que as estimativas de janeiro em geral são imprestáveis caso a intenção do freguês seja a de acertar um bolão sobre PIB e IPCA.

    Os números das previsões de maio, quando a gente já conta com informações do primeiro terço do ano, não são muito melhores, especialmente em relação ao crescimento do PIB. O chute informado dos economistas melhora de precisão na previsão feita no final de agosto. Parece tardio, mas vale lembrar que o primeiro dado relativo ao PIB fechado de cada ano sai lá por março.

    Enfim, mesmo quando se dá o desconto de que anos como 2001, 2002 ou até 2008 foram de choques terríveis (apagão, eleição de 2002, crises mundiais), as previsões não ficam lá muito precisas.

    E daí? 1) Precisamos de previsões, mas elas estarão erradas; 2) A gente não deveria prestar tanta atenção a isso, nem mesmo a uns décimos a mais ou a menos do PIB ou inflação de um certo ano, mas de pensar o que se pode fazer para mudar o patamar de crescimento por muitos anos, discussão que muita gente e em especial o governo puseram de molho. Querer acertar a mosca do alvo no curto prazo é megalomania contraproducente.

    vinicius torres freire

    Está na Folha desde 1991.
    Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.

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