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    Vinicius Torres Freire

    A 'imagem do Brasil' e a Copa

    13/06/2014 02h00

    A gente que estava preocupada com a "imagem do Brasil" deve ter ficado abismada com aquela festa pobre para a qual mal nos convidaram, a abertura da Copa, coisa que costuma ser em geral ridícula –mas a gente não precisava exagerar.

    Aquilo pareceu um Carnaval de rua em Jecópolis do Norte. Carnavalescos e escolas de samba fariam algo muito mais profissional.

    Falando um pouco mais sério, tanto quanto é possível neste caso, metade do mundo vai ver a Copa. Isso suscitou certa ansiedade com a "imagem do Brasil lá fora" e o acirramento algo amalucado das discussões sobre a conveniência de protestos ("vamos brigar na frente das visitas?) e o prejuízo de outras demonstrações conspícuas da nossa relativa desordem. Há mesmo gente exagerada a ponto de falar da Copa do Mundo como uma "oportunidade de demonstração de soft power" e de "reposicionamento da marca Brasil".

    Mas, para citar evidência anedótica, alguém aí lembra de ter aprendido ou retido alguma noção relevante sobre, por exemplo, a África do Sul, sede da Copa anterior? Digamos, algo além de Mandela, favela, vuvuzela, Soweto, apartheid e daquelas danças simpáticas deles?

    Não deve ser muito exagerado dizer que o grosso do mundo atento à Copa está tão preocupado ou preparado em aprender e reter algo do Brasil quanto nós a respeito da África do Sul. De resto, não estamos revelando nada de novo. Quem nos conhece e nos estuda não terá ficado mais surpreso ou decepcionado; o grosso do resto confirma seus vagos clichês, reafirmados pela cobertura jornalística, em geral cheia de lugares comuns.

    As flutuações da "imagem do Brasil" mais midiáticas e que mais costumam chamar a atenção, pelo menos as mais frequentes, estão simplesmente associadas aos humores dos donos do dinheiro grosso. A finança, daqui e alhures, está fazendo dinheiro num ambiente estável, previsível? A "imagem do Brasil" então sobe nas Bolsas imagéticas mundiais, pois a finança formata muito do que passa por informação econômica.

    O país está crescendo? Melhor. A política econômica não é inepta de um modo jeca e amador? Importa. Basta uma desvalorização inesperada de ativos, talvez do câmbio, para essa imagem dar um mergulho no vinagre.

    Entre gente que estuda mais o país ou trata de desenvolvimento social, as melhorias sociais deste século causaram impressão, decerto. Mas quem do grosso do resto do mundo se importa?

    Em seminários universitários nos EUA com uma audiência bem informada sobre desenvolvimento econômico e social mas com escassos conhecimentos sobre o Brasil, a "imagem do Brasil" piora espantosamente quando se toma conhecimento de coisas como as alturas das nossas taxas de juros, do peso de tributação em um país que tem desigualdade tão horrorosa e população com tão poucos anos de escola, para não falar de tantas ineficiências e deficiências institucionais e de "tecnologia" social.

    Quem conhece o Brasil e se interessa por nós já sabe disso faz tempo; sabe que essas coisas não se corrigem em pouco tempo.

    Quanto à "imagem na Copa", essa estará amarelada semanas depois da final.

    vinicius torres freire

    Está na Folha desde 1991.
    Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.

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