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    Vinicius Torres Freire

    Ser otimista, hoje em dia

    17/06/2014 02h00

    Alguns economistas fora do governo ainda fazem previsões otimistas para o crescimento da economia neste ano. "Otimistas" nos devidos ou tristemente indevidos termos.

    O pessoal da FGV do Rio, do Ibre, estima que o PIB cresça 1,6% neste 2014. Segundo a centena de estimativas privadas recolhida semanalmente pelo Banco Central divulgada ontem, o país deve crescer 1,2%.

    Alguns grupos de economistas, nem se trata de gente descabelada, preveem 1%. Estagnação, em termos per capita (levando em conta o crescimento da população, a produção ou a renda nacionais não terão crescido nada).

    Essa diferença de meio décimo nas previsões e na realidade tem alguma importância apenas no curto prazo, não diz grande coisa sobre o futuro da economia. De ponto de vista político e social, estimar eventual tombo do PIB pode ter interesse maior. Assim, é relevante saber se o colapso na confiança de consumidores e empresários, que vem desde março, é ou não transitório.

    Pode ser que essa piora adicional e rápida do humor de consumidores e empresários tenha sido provocada por protestos, greves, tumultos e perturbações devidas à Copa. Logo, isso pode passar. Como disse ontem Nelson Barbosa, ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda, em seminário na FGV, a expectativa de piora é tão grande que, ao não se confirmar o pior, a melhora de humor possa ser quase tão intensa. É, pode.

    Até agora, as pesquisas que medem opiniões a respeito do estado e do futuro da economia registram sentimento tão ruim quanto o verificado no ano de ligeira recessão de 2009 (a economia encolheu). De 45 segmentos do empresariado da indústria e dos serviços pesquisados pela FGV, em 82% houve piora do humor em maio, um sentimento espraiado de desânimo, em geral indicador prévio de retração da atividade econômica.

    Do mesmo modo importante é entender o que se passa no mercado de trabalho. Como já se escreveu nestas colunas, chama a atenção do pessoal da FGV o descompasso entre as pesquisas de emprego do IBGE.

    Em uma delas, a tradicional Pesquisa Mensal de Emprego (PME), que trata de seis grandes regiões metropolitanas, faz seis meses o número de pessoas empregadas parou de crescer (quando se compara cada mês com seu equivalente no ano anterior).

    Na nova Pnad Contínua, que começou a ser divulgada no início deste ano, o número de pessoas empregadas cresce, e cresce bem (menos na região Sudeste). A Pnad Contínua é um levantamento trimestral muitíssimo mais abrangente, que cobre cerca de 3.500 cidades. No entanto, ainda não publica dados de salários. Logo, a gente não sabe lá muito bem que tipo de emprego e qual rendimento conseguem as pessoas que estão engrossando a população ocupada, segundo a Pnad.

    Ainda assim, os economistas do Ibre acreditam que, tomados em conjunto, os indicadores da PME, da Pnad e os do Caged (registro administrativo de emprego formal) sugerem um mercado de trabalho ainda bem aquecido, com o que fica difícil prever uma queda significativa de salários, na média, e menos ainda uma alta ruim do desemprego. Isto é, em tese, um esteio que pode evitar colapso da economia neste ano.

    vinicius torres freire

    Está na Folha desde 1991.
    Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.

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