Não há tumulto em aeroporto. Em estádios ("arenas"). Na rua dos estádios. Na rua em geral.
As greves se desmancharam no ar, assim como a militância #nãovaitercopa, que jamais juntou muita gente no asfalto e enfim, não mais que de repente, refluiu como os rolezinhos.
A política politiqueira e partidária reduziu-se a algumas trocas de insultos, à pobreza geral de espírito envolvida na história da vaia à presidente da República e a bravatas e falações medíocres em lançamentos de candidaturas. Tais atitudes costumam causar ainda mais indiferença do que a de hábito entre os eleitores, com exceção daqueles viciados em política e mídia.
Tudo isso vira fumaça em horas ou dias. Lembram como tanto se falou do "golpe de mestre" de Eduardo Campos (PSB) ao receber o apoio de Marina Silva e sua Rede afogada?
O grosso dos brasileiros ainda não está prestando muita atenção à eleição, isso quando não estamos simplesmente nos recusando a fazê-lo. Vide a proporção ainda alta de "votos de protesto e/ou indiferença", cerca de um terço, na eleição presidencial, ou ainda mais que isso, como na eleição para o governo do Rio de Janeiro.
O que vem a ser esta calmaria? Trata-se de trégua, ressaca ou refluxo da irritação exacerbada até a primeira semana de junho? Certamente, óbvio, há o efeito "paz olímpica", na verdade da Copa, enquanto o time do Brasil continuar jogando. Mas o ruído de fundo da irritação não parece ter passado, embora tenha refluído das vias e manifestações públicas. Agressividades e violências, físicas e mesmo verbais, têm de resto incomodado o grosso do público desde o final do ano passado.
No universo paralelo e ora ainda mais distante da economia, dado o clima (mesmo ameno) de Copa, a deterioração continua, lenta e gradual, em ritmo menos estressado do que os de confiança.
Soube-se na terça-feira que a atividade no setor de serviços continuou a minguar, segundo o indicador do IBGE. Em abril, a receita cresceu 6,2% em relação ao mesmo mês do ano passado (sem descontar inflação. Quer dizer, o setor pode ter chegado à estagnação. Ainda não se sabe bem como calcular o crescimento real desse indicador novo do IBGE). A receita havia crescido quase 10% no primeiro bimestre e 6,5% em maio.
O indicador mais atualizado, referente a junho, é apenas uma espécie de prévia, mas marcou o terceiro mês seguido de baixa. O Índice de Confiança do Empresário Industrial da Confederação Nacional da Indústria caiu de novo, passando o trimestre em um nível que indica falta de confiança, "pessimismo".
O Indicador Antecedente Composto da Economia para o Brasil, da FGV do Rio, uma espécie de prévia do que pode ter acontecido com a atividade econômica "real" em maio, baixou mais nesse mês, marcando também um trimestre inteiro de declínio, soube-se ontem.
O ânimo, portanto, pelo menos o que pode ser medido por pesquisas de opinião e atividade econômica, baixava até o início deste junho. As alternativas políticas, na rua ou nos partidos, não empolgam o eleitorado. Não parece de modo algum que vamos para as tormentas, mas a calmaria pode bem ser apenas irritação muda.
Está na Folha desde 1991.
Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.