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    Vinicius Torres Freire

    Marina, Dilma e o duro 2015

    12/09/2014 02h00

    Quanto mais Dilma Rousseff (PT) bate em Marina Silva (PSB), mais a presidente se parece consigo mesma, pelo menos no que diz respeito a ideias econômicas. Qual o efeito prático, político e econômico, do fato de a presidente-candidata estar queimando navios e pontes nesta campanha para desembarcar em um segundo mandato?

    Dilma tem reafirmado com ênfase as linhas gerais de uma política econômica que, pelo menos no último biênio, contribuiu decisivamente para um crescimento quase zero, inflação em torno de 6% e investimento em queda. O desemprego é baixíssimo, embora a oferta adicional de trabalho comece a diminuir, assim como escasseiam as possibilidades de expansão responsável de programas sociais, dado que a receita extra do governo é minguante como o avanço do PIB.

    Mesmo diante desse quadro, a presidente ratificou sua política ao bater no programa econômico de Marina, como anteontem.

    "Asseguro que esse povo da autonomia do Banco Central [Marina] quer o modelo anterior. Querem fazer um baita ajuste, um baita superavit primário, aumentar os juros para danar, reduzir empregos e reduzir salário", disse Dilma.

    Embora "modelo anterior" deva ser uma referência ao governo FHC, note-se de passagem que a primeira metade dos anos Lula foi de um "baita ajuste" e de autonomia do Banco Central.

    Importante é que, reeleita, Dilma promete prosseguir na mesma toada macroeconômica que vem desde 2012. Não há motivo para acreditar que os resultados dessa política sejam diferentes no ano que vem. A diferença, agravante político, será que pelo segundo ano haverá quase estagnação na "economia cotidiana" (emprego, reajustes do mínimo) e desaceleração do consumo, além de oposição ainda maior da "elite" à política dilmiana.

    Pode ser que a presidente mude de ideia, caso reeleita, e faça "um ajuste". A dureza da vida será maior, pelo menos no primeiro ano. Politicamente, vai colar? FHC perdeu prestígio para sempre quando da grande desvalorização do real, em 1999, pouco depois de ser reeleito dizendo que não o faria.

    Marina Silva pode enfrentar problema semelhante, mas com sinal trocado. Seus assessores econômicos e ela mesma, sugerem um "baita ajuste". O efeito pode não ser a sangria alardeada pela campanha petista, mas bonita a coisa não vai ser. No mínimo, de início, não será compatível com o mundo róseo vendido por Marina e, na verdade, qualquer candidato.

    O marinismo diz que vai reajustar de cara os preços tabelados por Dilma, e que vai liberar o preço do dólar, ora controlado pelo BC, por exemplo, o que, dada a inflação já alta, demandará juros ainda mais altos e/ou, como dizem marinistas, um corte de gastos duro.

    Faz sentido. O problema está em como "pactuar" tal coisa com o grosso da população. Em 2003, a inflação e juros estavam na lua, o país vinha de anos de crescimento ruim e veio ainda um "baita ajuste". Mas a confiança econômica da população crescia, aliás crescia desde que Lula se tornou o favorito, ainda em 2002. Mesmo na dureza, com desemprego horroroso, preços altos e salários muito menores que os de agora, as pessoas optaram por aguentar o tranco.

    vinicius torres freire

    Está na Folha desde 1991.
    Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.

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