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    Vinicius Torres Freire

    Quinzena de agitos pelo mundo

    02/10/2014 02h00

    A conversa sobre quase qualquer assunto está contaminada pela ira dos dias tensos de campanha eleitoral. Conversas econômicas ou, melhor, fofocas financeiras, ainda mais. Então, esqueça-se por um minuto da Bolsa, do dólar ou dos juros futuros no Brasil. Olhe-se pela janela, lá para fora. Há uma ventania derrubando folhas, ações e moedas também. Quanto vai chover, não se sabe.

    Faz duas semanas, os donos do dinheiro grosso estão rearrumando seus capitais nas gavetas, vendendo isso, comprando aquilo. Da eurozona à Indonésia, da Índia à Coreia, da Austrália à Turquia, há Bolsas no vermelho e moedas perdendo valor em relação ao dólar.

    Faz duas semanas, houve a reunião periódica do comitê de política monetária do Fed, o banco central norte-americano. Não houve grande novidade, nem pequena, mas o pessoal do dinheiro achou que os juros americanos subiriam mais rápido do que o antes previsto. O dólar começou a subir pelo mundo quase inteiro.

    Até o fim deste mês, o Fed também deve deixar de "injetar" dinheiro na economia (comprar títulos a fim de baixar juros, grosso modo), o que de um modo ou de outro fazia desde 2008. Estava mais que previsto, ainda há um mar de dinheiro barato pelo mundo, mas essa torneira vai secar.

    A maré da dinheirama vai parar de subir, dinheiro que serviu para chutar para cima o preço de ativos financeiros em geral. Os mais arriscados começariam a perder valor primeiro, como, dizem os americanos, é o caso de ações de pequenas empresas de lá, estrelinhas do noticiário de ontem.

    O que mais aconteceu? Notou-se de novo que a eurozona está num mato sem cachorro e que o crescimento se aproxima de zero de novo. Os juros da dívida alemã estão na lona, pois o crescimento baixa até no centro europeu.

    Avalia-se que está mais próximo o dia em que o Banco Central Europeu vai ter de fazer alguma coisa, algo na linha do programa de o Fed está para encerrar. Mas essa conversa vinha progredindo de maneira lenta, gradual e segura faz meses.

    "Tensões geopolíticas"? Bem, havia o caso com a Rússia e Ucrânia. Havia os cavaleiros do apocalipse islâmico, o EI, e os tumultos da Síria ao Iraque. Mas o problema russo deixara de causar comoção. Agora, decerto, há uma fuga meio feia de capitais da Rússia e boatos de que o país vai controlar a saída de dinheiro.

    Mas não é bastante para azedar os ares do mundo. Quanto aos EI e Iraque: o preço do petróleo até vem caindo, para o menor nível em 17 meses ou 25 meses, a depender do mercado.

    Claro que moedas, ações e outros ativos financeiros caem a velocidades diferentes pelo mundo. Mas caem. Além do mais, depender da data de referência a partir da qual se calcula o tombo, as diferenças parecem menos gritantes, Brasil inclusive.

    Países com desarranjos econômicos, ou assim percebidos pela finança, padecem mais, como foi o caso de Brasil e outros "frágeis" em meados do ano passado. Mas há sinais inequívocos de que essa temporada de rearranjos é global. Haverá outras, até pelo menos o final do ano que vem.

    vinicius torres freire

    Está na Folha desde 1991.
    Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.

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