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    Vinicius Torres Freire

    A seca na comida

    21/10/2014 02h00

    A seca ainda não apareceu nos preços dos alimentos, pelo menos na média deles, nem mesmo nos preços do sertão de São Paulo, onde mais e mais pessoas dão notícia de falta d'água nas torneiras, como mostram pesquisas do Datafolha.

    Apesar de as gentes que lidam com economia tratarem muito de Bolsas, dólares e abstrações macroeconômicas, o preço da comida é um dos indicadores mais sensíveis e visíveis.

    Quando sobe muito mais do que a média da inflação, o preço médio dos alimentos costuma abalar os índices de confiança do consumidor na economia, quando não no governo mesmo.

    A conjunção de uma eventual alta extra do preço da comida com a irritação crescente com a falta d'água pode se tornar um problema político ou, no mínimo, de imagem para os governantes.

    Por ora, não há sinal de alarme. Não se trata de dizer que a seca não tenha abalado a cotação de alguns produtos, de acordo com produtores e atacadistas, e como pode ser notado em alguns índices de preços setoriais. Até agosto, no Ceagesp - o grande mercado atacadista de São Paulo- os preços no ano, em média, estavam em queda até.

    Mas, em setembro, a inflação média de frutas, legumes, verduras, pescados e alguns diversos passou a subir em 2014.

    "Aspectos sazonais, estiagem e, principalmente, problemas no abastecimento de água no Estado de São Paulo e parte da região Sudeste dificultam a irrigação e prejudicam o desenvolvimento e a produção de algumas culturas como citros e legumes", diz o relatório do Ceagesp publicado no início deste mês de outubro.

    A inflação da comida, medida pelo índice "oficial" de inflação, o IPCA, ainda supera a inflação média, com tem ocorrido desde 2010, 8,2% nos últimos 12 meses, ante 6,7% do IPCA geral.

    Cereais, grãos, legumes, farinhas, hortaliças e verduras estão em baixa; carnes, frutas, pão, industrializados, peixe e bebidas, em alta.

    O preço de comer fora de casa continua a subir a 10% ao ano, mas o problema aqui parecem ser custos outros que não o da matéria prima (salários, infra).

    A baixa ou desaceleração mundial de produtos como a soja ajudam a conter a alta da comida. Um ciclo de baixa na produção de carne no Brasil ajuda a elevar os preços.

    Quanto aos produtos "mais domésticos", as análises de economistas do setor não indicam alta expressiva de preços até o final do ano (quer dizer, altas ainda maiores do que as corrente).

    No entanto, sabe-se ainda muito pouco o que será do verão no Sudeste e em parte do Centro-Oeste.

    Ouve-se muito pequeno produtor reclamar da falta d'água, de dificuldade de irrigação, mas não há notícia de crise espraiada.

    Caso não chova, haverá água para a agricultura?

    O que vai ser dos preços da energia elétrica? No caso da eletricidade para consumo residencial, os preços subiram em média 14,7% nos últimos 12 meses.

    Qual vai ser o custo do transtorno em caso de um racionamento abrupto de água. Isto é, qual vai ser o impacto de pagar mais por água escassa, de ineficiências e de especulações?

    vinicius torres freire

    Está na Folha desde 1991.
    Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.

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