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    Vinicius Torres Freire

    Um espanto de otimismo

    23/10/2014 02h00

    Houve melhora rápida e espantosa do ânimo do eleitorado em relação à economia, segundo pesquisa Datafolha publicada ontem. É um espanto, mas o aumento da esperança já aconteceu antes em momento conturbado da economia, como na eleição de 2002. Muitas vezes, não "é a economia, seu burro", como diz o jargão marqueteiro americano que se tornou clichê.

    Ainda assim.

    Considere-se a expectativa dos brasileiros em relação à inflação, também um indicador de insegurança geral em relação ao futuro. Ainda em agosto, estava em níveis semelhantes ao do colapso geral da confiança verificado em junho de 2013 e nos meses seguintes.

    A confiança também ainda estava em níveis próximos ao de meses ruins de 2009, ano de desemprego, recessão e crise mundial assustadora. Em fevereiro, o desânimo em relação à economia chegou perto dos níveis mais baixos em 20 anos.

    A mais recente pesquisa Datafolha sobre expectativas econômicas havia sido realizada no fim de setembro. Até então, neste ano, os resultados eram compatíveis com aqueles das sondagens econômicas rotineiras de opinião do consumidor da FGV e da CNI.

    As pesquisas de confiança do consumidor mais recentes indicavam despiora, apenas, depois da grande irritação do primeiro semestre deste ano. O ânimo econômico ainda está em níveis baixos, como em 2009 ou em meados de 2013 e de 2014, segundo FGV e CNI.

    Esses levantamentos mostraram que a partir de abril houve uma baixa aguda de confiança economia, inédita desde a grande crise de 2008. No entanto, ainda que a economia viesse desacelerando ainda mais, a "economia cotidiana" (emprego, consumo) não naufragava. Parecia um pessimismo extraordinário, exagero que pode ser associado pelo menos em parte à volta do tumulto nas ruas, greves, protestos etc.; em parte menor, ao tumulto financeiro ("do dólar") do início do ano.

    O levantamento da CNI foi feito na primeira metade de setembro, porém. O da FGV, até o dia 20 do mês passado. Faz mais de um mês. De qualquer modo, não houve nem poderia ter havido melhoras na economia, na perspectiva de economistas ou não. Ao contrário, aliás.

    O que pode ter havido? Decerto tiraram da sala o bode dos protestos e do clima de exasperação "Copa". Houve a campanha eleitoral. O eleitor passou a pensar no país e no futuro. Certo ou errado, descobriu alguma coisa que o animou, como subitamente descobriu que era infeliz e não sabia, em junho de 2013.

    No péssimo ano de 2002, a inflação decolava, havia clima de fim de mundo devido à liderança de Lula nas pesquisas, o dólar foi a R$ 4, o Brasil estava semiquebrado, o brasileiro era muito mais pobre e desassistido etc. Mas, ao final do ano, a confiança econômica subiria para um dos níveis mais altos de todos os registrados entre 1995 e 2014. Os preços e o desemprego subiriam ainda mais, mas o medo da inflação continuaria a cair.

    Agora, com a eleição indefinida, houve pelo menos um sinal temporário de volta da esperança. Há diferenças no ânimo a depender da renda e da educação, mas nada assim significante. De modo ainda curioso, o debate político fez os eleitores terem ideias diferentes sobre si e sobre o país.

    vinicius torres freire

    Está na Folha desde 1991.
    Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.

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