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    Vinicius Torres Freire

    Descendo várias ladeiras

    05/11/2014 02h00

    O número mais impressionante do comércio externo brasileiro é o rápido colapso das importações, das nossas compras de produtos de outros países. Os números, divulgados na segunda-feira, impressionam porque assustam. O valor total das importações desacelerou de modo brusco a partir de maio, começou a cair em julho e em outubro despencou (somados os valores acumulados em 12 meses).

    Vai encolhendo a compra de produtos prontos, de matérias-primas, de insumos da indústria e, em particular, de bens de capital, as máquinas e os equipamentos necessários para a renovação ou a construção de novos negócios. Em suma, as empresas reduzem suas compras porque esperam vender menos aqui ou lá fora e porque vão investir menos.

    Ainda mais deprimente é confirmar que quase tudo desce a ladeira da atividade econômica, em sincronia rara de ver na última década. Desaceleram ou encolhem as importações, a produção industrial, as vendas no varejo. As linhas dos gráficos embicam para baixo decisivamente a partir de março, abril, sempre levando em conta os resultados acumulados em 12 meses, que oferecem mais perspectiva e atenuam variações violentas de curta duração.

    A produção industrial brasileira encolheu quase 3% nos 12 meses contados até setembro, soube-se ontem pelo IBGE (a indústria de transformação, não inclui a extrativa).

    Quais as perspectivas? "Para os próximos meses, esperamos fraqueza da produção industrial, considerando os fundamentos econômicos desfavoráveis, como a baixa confiança dos empresários e os altos estoques na indústria", diz relatório dos economistas do banco Itaú divulgado ontem sobre os números do IBGE.

    Sim, há o bom resultado do desemprego. O número de pessoas empregadas nas grandes metrópoles praticamente parou de crescer em setembro de 2013. Pergunta-se o que virá agora, com quase três trimestres de economia no vermelho, quase sangue, pois o fundo do poço ainda parece estar ainda meses adiante. E vai-se sair de lá devagar, dada a perspectiva de pelo menos um miniarrocho no início de 2015 (mais juros, menos gasto público).

    A balança comercial foi publicada na segunda-feira e em geral chamou a atenção pelo fato de o Brasil praticamente não ter mais saldo comercial, do "pior outubro desde 1998" (ano que na verdade foi muito pior). Há resultados bem desagradáveis, ainda mais às vésperas de um período em que o mundo, a princípio, não vai se animar a comprar muito mais produtos brasileiros.

    O caso do minério de ferro, por exemplo. Trata-se de um talho enorme nas receitas de exportação que de resto afeta uma das duas ou três maiores empresas do Brasil, a Vale. O pessoal da agropecuária perde rentabilidade, preço, mas ainda vende mais, como em soja e carnes.

    Mais importante, porém, é o conjunto da obra. Não estamos conseguindo vender mais lá fora nem estamos comprando mais no exterior, para vender aqui ou reexportar. O comércio mundial cresce devagar, mas cresce; o brasileiro decresce. Não se trata de maldição, mas de sintoma de muita coisa errada ao mesmo tempo aqui dentro.

    vinicius torres freire

    Está na Folha desde 1991.
    Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.

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