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    Vinicius Torres Freire

    Dilma cedeu. Quanto?

    07/11/2014 02h00

    O "ajuste" tão vilipendiado na campanha eleitoral do governismo começou, ratificado de resto pela presidente reeleita, em entrevista de ontem.

    A taxa de juros aumentou e aumentará mais, ao passo dos reajustes de preços regulados pelos governos e pela alta do dólar, que tendia mesmo a subir e talvez suba um tanto mais porque o Banco Central dá indícios de que não vai segurar o preço da moeda americana como o fazia desde agosto de 2013. Os combustíveis sobem hoje. A seguir, vamos saber o tamanho do reajuste do preço da eletricidade.

    A próxima dúvida a ser esclarecida é a respeito do ritmo do acerto das contas da economia, dos gastos do governo aos impostos. A seguinte, sobre o efeito político de um segundo ano de estagnação econômica e do provável, ainda que parcial, desmentido das promessas de campanha da presidente reeleita.

    O corte de gastos provavelmente deve ser progressivo, como tem afirmado o governo. Mas deve sê-lo mais por precisão do que por boniteza. Quer dizer, como é muito difícil reduzir despesas, dados o orçamento engessado e compromissos inevitáveis, no curto prazo, o aumento da poupança do governo deve, na melhor das hipóteses, ser suave. Certas revisões de gastos insinuadas pela presidente, como despesas com seguro-desemprego e pensões, são trabalhosas.

    Quanto a impostos, há gente graúda no governo a dizer que não haverá aumentos. A afirmação é, no entanto, capciosa.

    Primeiro, porque o governo pode restabelecer alíquotas antigas de impostos existentes (Cide, IPI) e dizer, assim, que não houve aumento de tributos, apenas a reversão de uma desoneração excepcional. Segundo, porque não se sabe ainda quem será a gente graúda e com comando econômico a partir de janeiro.

    Lembre-se mais uma vez que, quanto mais lento o conserto das contas do governo, a princípio por mais tempo as taxas de juros permanecerão em alta ou altas. Não é um equilíbrio social e economicamente mais justo, por mais que "cortar gastos" pareça um atentado à inclusão social, ou lugar-comum parecido e equivocado.

    Os impactos mais cotidianos de três anos de lerdeza econômica e um de estagnação começam a aparecer por quase toda parte. Ontem, soube-se, por exemplo, que os brasileiros estão colocando menos dinheiro nas cadernetas de poupança, uma aplicação financeira sabidamente popular. Trata-se de um sintoma.

    Todas as vezes em que a economia brasileira embica para um ciclo menor de crescimento, o saldo acumulado das captações da poupança embica para baixo também, em ladeira abrupta, como acontece desde o terceiro trimestre do ano passado (feita a conta com o acumulado de 12 meses). Não se trata de indício de coisa pior, nada assim, mas de um sinal de que está sobrando menos dinheiro e/ou de que parte das sobras dos salários vai para aplicações a juros maiores.

    É um sintoma de que as coisas não vão bem, daqueles facilmente perceptíveis pelo cidadão comum. Assim como é visível que o consumo desacelera, que os salários crescem mais devagar. Tudo embica para baixo em sincronia. A ladeira vai ficar mais íngreme agora, que o "ajuste" começou, seja lá qual for o seu tamanho.

    vinicius torres freire

    Está na Folha desde 1991.
    Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.

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