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    Vinicius Torres Freire

    Dilma e suas alegrias

    11/11/2014 02h00

    PARA QUASE qualquer lugar da economia para onde se olhe, há motivos de aflição sobre o presente e ansiedade sobre o futuro próximo.

    Em entrevistas ou discursos, a presidente Dilma Rousseff costuma citar animadamente dois aspectos melhores da economia: o desemprego baixo e o investimento estrangeiro "na produção" (investimento estrangeiro direto, o IED).

    Na conta do IED estão os dinheiros que entram no Brasil destinados à compra ou criação de empresas e empréstimos entre matrizes e filiais. Esse pedaço das contas externas do país vai de fato bem.

    Quando instada a falar sobre a baixa confiança dos empresários ou sobre a queda dos investimentos "domésticos", a presidente retruca com o IED grandão.

    Apesar de, em relação ao tamanho da economia, o IED ter tido dias melhores, nos últimos 12 meses até setembro entraram US$ 66,4 bilhões no país, equivalente a 2,9% do PIB. No ano passado, foram US$ 64 bilhões. Trata-se de quantidade próximas das máximas históricas.

    Bom? É um indício de que empresários não-residentes acreditam que é ainda é possível fazer dinheiro no Brasil, que o país tem um mercado de bom tamanho, que não há colapso à vista.

    Ruim? Economistas críticos do governo alegam que grandes empresas estrangeiras vêm para cá porque o mercado é protegido da concorrência. Vêm para explorar taxas de rentabilidade muito altas, produzir bens e serviços inferiores e caros, exportar pouco ou nada.

    Em resumo, vêm para explorar e perpetuar ineficiências da economia brasileira.

    Outra especulação razoável seria dizer que o IED cresceu e manteve-se em níveis altos depois de 2010 porque há capital barato sobrando, dada a lerdeza econômica mundial.

    SERVIÇOS FRAQUEJA

    No Brasil, apesar do ritmo declinante do PIB, o consumo ainda crescia a um ritmo forte, assim como o setor de serviços. Aliás, desde 2009, o IED cresce mais no setor de serviços: financeiros, comércio, de utilidade pública (eletricidade, gás etc), teles, entre os maiores, mas também em imóveis, transporte, educação e tecnologia de informação.

    O setor de serviços começou a fraquejar também. A renda da população cresce bem mais devagar. Talvez nada neste ano.

    O IED é uma forma de financiamento do nosso deficit externo. Compramos mais bens e serviços do que vendemos lá fora. A diferença precisa ser financiada por "entradas de dólares", por meio de IED ou aplicações financeiras. Quanto menos IED, pior a qualidade do financiamento do deficit. O IED, de 2,9% do PIB, já não financia nosso deficit externo, de 3,7% do PIB.

    Em outros tempos, deficits externos grandes e reservas pequenas levavam o Brasil a crises cambiais (falta de dólares), o que resultava em desvalorizações brutais, mais inflação e visitas ao FMI.

    Agora, a economia é menos desarrumada, temos reservas enormes e, inédito, não temos dívida externa, na prática.

    Melhor assim. Mas viradas no fluxo internacional de capitais por vezes são brutais e rápidas. E folga nas reservas pode induzir negligência. Como há mais gordura para queimar, pode-se fazer besteira por mais tempo.

    vinicius torres freire

    Está na Folha desde 1991.
    Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.

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