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    Vinicius Torres Freire

    Barafunda na transição

    14/11/2014 02h00

    A GENTE ESPERA que o clima e o ambiente de fim de festa ruim destes últimos dias do primeiro governo de Dilma Rousseff seja apenas isso mesmo, o fim do primeiro mandato quase vencido, e não o começo de Dilma 2. O governo-em-transição enrola-se ao lidar com coisas das mais simples às mais complexas, que ficam complicadas.

    A barafunda política aumenta. O descrédito das contas do governo cresce, mais uma prova de que não existem absolutos. A maior empresa do país, a Petrobras, desfalcada, superfaturada, corrompida e investigada pela Justiça de vários países, nem balanço apresentou até agora. As taxas reais de juros sobem.

    O governo enrola-se ao organizar um processo tão comezinho quanto a demissão dos ministros do governo que se encerra, o que deveria ser apenas protocolar e irrelevante, mas que acabou por aumentar o nível de ruído político.

    Enrola-se ainda mais com problemas graves, tais como o descalabro das contas públicas. Depois de dar a ligeira e, agora se vê, breve impressão de que cuidaria dos desarranjos econômicos mais urgentes e aflitivos, a presidente e seus auxiliares restantes dizem que está tudo bem, que o governo do Brasil está em uma situação confortável, das "melhores" entre os países de maiores economias do mundo. Enquanto isso, o Tribunal de Contas da União divulgava estudo que acabava por tripudiar a aritmética fantasista da contabilidade federal em 2013.

    Mesmo depois da série de balanços calamitosos das contas do governo, as declarações da presidente e de seus ministros causaram consternação até em críticos cínicos do seu governo. A especulação barata e juvenil com rumores sobre o nome do novo ministro da Fazenda e, mais relevante, a impressão de alheamento da realidade que transmite o governo-em-transição estão custado caro.

    As taxas reais de juros sobem.

    Sim, a presidente reeleita tem o seu tempo e tem direito a tempo para organizar uma nova equipe, mesmo permanecendo no cargo, mesmo sabendo desde o início do ano que trocaria o ministro da Fazenda. Não se trata de atender as ansiedades jornalístico-mercadistas. O problema não está aí.

    A impressão que fica desses dias iniciais de governo-em-transição é que o governo, agora ainda mais restrito à presidente e seus botões, não é capaz de administrar expectativas, de se antecipar aos problemas mais óbvios.

    Ressalte-se: a aprovação de um remendo legal que dê conta do fato de que o governo estourou suas contas se transforma em tumulto no Congresso, agravado pelas mensagens de que se pretende continuar gerindo o dinheiro público na mesma toada de 2012-2014, o que é receita certa de encrenca.

    Decerto tudo isso pode passar. A presidente pode apresentar um plano de transição ao menos para a sua transição. Pode dar indícios de que enfim vai ter uma equipe, ao menos para apagar os incêndios de agora e os que brotarão nos próximos meses. Pode. Mas até agora dá a impressão de que apenas ela sabe de seu governo, que centraliza todas as decisões, que não está propensa a rever nem os aspectos mais daninhos da sua política econômica.

    Não se trata de questão de gosto, de picuinhas. Isso está custando caro. As taxas reais de juros sobem.

    vinicius torres freire

    Está na Folha desde 1991.
    Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.

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